sábado, 16 de outubro de 2010

DESMACARADO PELAS CENTRAIS SINDICAIS, SERRA BUSCA SOCORRO NA UGT

Depois de ser denunciado por cinco das seis centrais sindicais — no ótimo manifesto “Serra: impostura e golpe contra os trabalhadores” —, o presidenciável José Serra (SP) acusou o golpe. Nesta quarta-feira (14), uma semana após a divulgação do manifesto, o tucano irá a uma plenária da UGT (União Geral dos Trabalhadores), em São Paulo, para receber em mãos um documento da central endereçado aos candidatos à Presidência.

Por André Cintra

Em meio à acirrada campanha eleitoral, Serra corre para reverter a imagem de inimigo número um dos trabalhadores e do movimento sindical. Suas chances de obter êxito são muito próximas a zero. Conforme declara o manifesto assinado pelos presidentes de CUT, Força, CTB, CGTB e Nova Central, a “marca registrada” da trajetória política de Serra “foi atuar contra os trabalhadores”. Não há marquetagem ou factoide que maquie essa reputação.


De acordo com as centrais, Serra “tem se apresentado como um benemérito dos trabalhadores, divulgando inclusive que é o responsável pela criação do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e por tirar do papel o Seguro-Desemprego. Não fez nenhuma coisa, nem outra”.

O manifesto também lembra que, na Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988), o então deputado federal José Serra boicotou inúmeros avanços para os trabalhadores e o sindicalismo. Serra votou contra a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, a garantia de aumento real do salário mínimo, a estabilidade do dirigente sindical, o direito à greve, entre outras medidas.

As denúncias contra o tucano são ainda mais numerosas: “Serra, enquanto governador de São Paulo, reprimiu a borrachadas e gás lacrimogênio os professores que estavam reivindicando melhores salários; jogou a tropa de choque contra a manifestação de policiais civis que reivindicavam aumento de salário, o menor salário do Brasil na categoria; arrochou o salário de todos os servidores públicos do Estado de São Paulo”, registra o manifesto das centrais.

Serra economista?

A mentira tem perseguido o discurso do candidato do PDSB. Outra “marca registrada” de Serra é lustrar sua biografia de tal forma que, como diria Machado de Assis, lhe confira “ares de fidalgo”. O tucano, por exemplo, afirma em todos os cantos que é economista, assim como já sustentou ser engenheiro.

O Conselho Regional de Economia da Paraíba já pediu interpelação judicial e enquadramento do presidenciável tucano, acusando Serra de “falsidade ideológica” e “charlatanismo”. A denúncia recebeu o apoio dos conselhos regionais de mais sete estados — Alagoas, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Rondônia e Tocantins.

Como enfatiza o jornalista Paulo Henrique Amorim no blog Conversa Afiada, “ele pode até ter estudado economia e engenharia na Bolívia, no Chile, nos Estados Unidos, no Uzbequistão ou na PiGolândia (onde ele é soberano e quase rei). Mas, não detém um diploma que o credencie a exercer essas profissões no Brasil. E muito menos a dizer que é ‘engenheiro’ ou ‘economista’”.

Uma aliança natural

Só mesmo a UGT para dar guarida a um candidato com esse “não-currículo”, na contramão da imensa maioria do movimento sindical. Nada mais natural que se trate da única central que demonstra entusiasmo com uma candidatura tão conservadora. Neste ano, a entidade presidida por Ricardo Patah já vinha tomando uma série de decisões que sinalizavam o rompimento com a unidade do sindicalismo e a adesão à direita.

Um momento emblemático da guinada foi a manifestação hipócrita e oportunista que a UGT promoveu, em 7 de abril, contra o regime cubano e em defesa das “Damas de Branco”. O protesto foi um fiasco. Para desmascarar o isolamento da UGT, entidades das mais variadas frentes se aliaram ao Movimento Paulista de Solidariedade a Cuba e realizaram, no mesmo local e na mesma hora, um ato em solidariedade ao povo cubano e de repúdio à campanha midiática contra o país caribenho. Mais tarde, soube-se ainda que a UGT contratou “manifestantes de aluguel”, por R$ 50 e R$ 100, para forjar uma boa mobilização.

A UGT também tentou, em vão, levar Serra ao 1º de Maio Unificado, promovido em conjunto com a CTB e a Nova Central. Dissimulado, o tucano afirmou que o convite não havia chegado a suas mãos. Mas um pré-acordo entre a central e a campanha Serra fez com que a UGT ficasse de fora do maior evento do movimento sindical brasileiro em mais de duas décadas — a 2ª Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, em 1º de junho, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo.

O encontro reuniu mais de 25 mil lideranças sindicais e aprovou a Agenda da Classe Trabalhadora. Com seis eixos estratégicos e 249 reivindicações, o documento é o mais legítimo porta-voz dos interesses dos trabalhadores. Suas propostas foram deliberadas em consenso por cinco centrais diferentes, representantes de mais de 90% da base do movimento. Ao desqualificá-lo, UGT e Serra mostram que só podem estar, ambos, numa mesma — e deplorável — trincheira.

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