domingo, 13 de julho de 2025

"Barroso diz em carta que tarifa de Trump se baseia em 'compreensão imprecisa dos fatos'

Barroso diz em carta que tarifa de Trump se baseia em 'compreensão imprecisa dos fatos'; leia íntegra Presidente do STF ainda disse que diferentes visões de mundo 'não dão direito a ninguém de torcer a verdade'. Barroso ainda afirmou que julgamento contra ex-presidente ainda não foi concluído e que ele pode ou não ser incriminado. Por Delis Ortiz, TV Globo e g1 — Brasília 13/07/2025 21h42 Atualizado há 14 minutos MinistroLuís Roberto Barroso, do STF — Foto: STF/Reprodução MinistroLuís Roberto Barroso, do STF — Foto: STF/Reprodução O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, publicou neste domingo (13) uma carta pública em defesa da democracia e chamou os argumentos do governo americano para o tarifaço de "compreensão imprecisa" dos fatos ocorridos nos últimos anos. (Veja íntegra da carta abaixo) "Em 9 de julho último, foram anunciadas sanções que seriam aplicadas ao Brasil, por um tradicional parceiro comercial, fundadas em compreensão imprecisa dos fatos ocorridos no país nos últimos anos", afirmou Barroso. O ministro ainda disse que que diferentes visões de mundo "não dão direito a ninguém de torcer a verdade". "As diferentes visões de mundo nas sociedades abertas e democráticas fazem parte da vida e é bom que seja assim. Mas não dão a ninguém o direito de torcer a verdade ou negar fatos concretos que todos viram e viveram", afirmou Barroso. Esta é a primeira manifestação do Supremo Tribunal Federal a respeito do anúncio feito por Donald Trump e que culpa justamente a corte de perseguir o ex-presidente Jair Bolsonaro. Na carta, Barroso citou o histórico de tentativas de ruptura institucional ocorridas nos últimos 90 anos no país – incluindo o golpe de 1964 – e, sem seguida, episódios ocorridos a partir de 2019, como: a tentativa de atentado terrorista a bomba no aeroporto de Brasília; a tentativa de explosão de bomba no Supremo Tribunal Federal (STF); as acusações falsas de fraude eleitoral na eleição presidencial; e a tentativa de golpe que, segundo a Procuradoria-Geral da República, incluía o plano para assassinar o presidente Lula (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). "Ao lado das outras instituições, como o Congresso Nacional e o Poder Executivo, o Supremo Tribunal Federal tem desempenhado com sucesso os três grandes papeis que lhe cabem: assegurar o governo da maioria, preservar o Estado democrático de direito e proteger os direitos fundamentais". Julgamento do golpe Barroso ainda afirmou que o STF vai fazer o julgamento da denúncia da tentativa de golpe de Estado "com independência e com base nas evidências". E complementou: "Se houver provas, os culpados serão responsabilizados. Se não houver, serão absolvidos. Assim funciona o Estado democrático de direito", afirmou. Barroso ainda contrapôs os argumentos da carta de Trump sobre ataques a liberdade de expressão dizendo que quem não viveu períodos de ditadura não sabe o que é "falta de liberdade, tortura, desaparecimentos forçados e perseguição a juízes", como aconteceu no Brasil ao longo de sua história. "No Brasil de hoje, não se persegue ninguém. Realiza-se a justiça, com base nas provas e respeitado o contraditório". Veja íntegra da carta Em 9 de julho último, foram anunciadas sanções que seriam aplicadas ao Brasil, por um tradicional parceiro comercial, fundadas em compreensão imprecisa dos fatos ocorridos no país nos últimos anos. Cabia ao Executivo e, particularmente, à Diplomacia – não ao Judiciário – conduzir as respostas políticas imediatas, ainda no calor dos acontecimentos. Passada a reação inicial, considero de meu dever, como chefe do Poder Judiciário, proceder à reconstituição serena dos fatos relevantes da história recente do Brasil e, sobretudo, da atuação do Supremo Tribunal Federal. As diferentes visões de mundo nas sociedades abertas e democráticas fazem parte da vida e é bom que seja assim. Mas não dão a ninguém o direito de torcer a verdade ou negar fatos concretos que todos viram e viveram. A democracia tem lugar para conservadores, liberais e progressistas. A oposição e a alternância no poder são da essência do regime. Porém, a vida ética deve ser vivida com valores, boa-fé e a busca sincera pela verdade. Para que cada um forme a sua própria opinião sobre o que é certo, justo e legítimo, segue uma descrição factual e objetiva da realidade. Começando em 1985, temos 40 anos de estabilidade institucional, com sucessivas eleições livres e limpas e plenitude das liberdades individuais. Só o que constitui crime tem sido reprimido. Não se deve desconsiderar a importância dessa conquista, num país que viveu, ao longo da história, sucessivas quebras da legalidade constitucional, em épocas diversas. Essas rupturas ou tentativas de ruptura institucional incluem, apenas nos últimos 90 anos: a Intentona Comunista de 1935, o golpe do Estado Novo de 1937, a destituição de Getúlio Vargas em 1945, o contragolpe preventivo do Marechal Lott em 1955, a destituição de João Goulart em 1964, o Ato Institucional nº 5 em 1968, o impedimento à posse de Pedro Aleixo e a outorga de uma nova Constituição em 1969, os anos de chumbo até 1973 e o fechamento do Congresso, por Geisel, em 1977. Levamos muito tempo para superar os ciclos do atraso. A preservação do Estado democrático de direito tornou-se um dos bens mais preciosos da nossa geração. Mas não foram poucas as ameaças. Nos últimos anos, a partir de 2019, vivemos episódios que incluíram: tentativa de atentado terrorista a bomba no aeroporto de Brasília; tentativa de invasão da sede da Polícia Federal; tentativa de explosão de bomba no Supremo Tribunal Federal (STF); acusações falsas de fraude eleitoral na eleição presidencial; mudança de relatório das Forças Armadas que havia concluído pela ausência de qualquer tipo de fraude nas urnas eletrônicas; ameaças à vida e à integridade física de Ministros do STF, inclusive com pedido de impeachment; acampamentos de milhares de pessoas em portas de quarteis pedindo a deposição do presidente eleito. E, de acordo com denúncia do Procurador-Geral da República, uma tentativa de golpe que incluía plano para assassinar o Presidente da República, o Vice e um Ministro do Supremo. Foi necessário um tribunal independente e atuante para evitar o colapso das instituições, como ocorreu em vários países do mundo, do Leste Europeu à América Latina. As ações penais em curso, por crimes diversos contra o Estado democrático de direito, observam estritamente o devido processo legal, com absoluta transparência em todas as fases do julgamento. Sessões públicas, transmitidas pela televisão, acompanhadas por advogados, pela imprensa e pela sociedade. O julgamento ainda está em curso. A denúncia da Procuradoria da República foi aceita, como de praxe em processos penais em qualquer instância, com base em indícios sérios de crime. Advogados experientes e qualificados ofereceram o contraditório. Há nos autos confissões, áudios, vídeos, textos e outros elementos que visam documentar os fatos. O STF vai julgar com independência e com base nas evidências. Se houver provas, os culpados serão responsabilizados. Se não houver, serão absolvidos. Assim funciona o Estado democrático de direito. Para quem não viveu uma ditadura ou não a tem na memória, vale relembrar: ali, sim, havia falta de liberdade, tortura, desaparecimentos forçados, fechamento do Congresso e perseguição a juízes. No Brasil de hoje, não se persegue ninguém. Realiza-se a justiça, com base nas provas e respeitado o contraditório. Como todos os Poderes, numa sociedade aberta e democrática, o Judiciário está sujeito a divergências e críticas. Que se manifestam todo o tempo, sem qualquer grau de repressão. Ao lado das outras instituições, como o Congresso Nacional e o Poder Executivo, o Supremo Tribunal Federal tem desempenhado com sucesso os três grandes papeis que lhe cabem: assegurar o governo da maioria, preservar o Estado democrático de direito e proteger os direitos fundamentais. Por fim, cabe registrar que todos os meios de comunicação, físicos e virtuais, circulam livremente, sem qualquer forma de censura. O STF tem protegido firmemente o direito à livre expressão: entre outras decisões, declarou inconstitucionais a antiga Lei de Imprensa, editada no regime militar (ADPF 130), as normas eleitorais que restringiam o humor e as críticas a agentes políticos durante as eleições (ADI 4.1451), bem como as que proibiam a divulgação de biografias não autorizadas (ADI 4815). Mais recentemente, assegurou proteção especial a jornalistas contra tentativas de assédio pela via judicial (ADI 6792). Chamado a decidir casos concretos envolvendo as plataformas digitais, o STF produziu solução moderada, menos rigorosa que a regulação europeia, preservando a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, a liberdade de empresa e os valores constitucionais. Escapando dos extremos, demos um dos tratamentos mais avançados do mundo ao tema: conteúdos veiculando crimes em geral devem ser removidos por notificação privada; certos conteúdos envolvendo crimes graves, como pornografia infantil e terrorismo devem ser evitados pelos próprios algoritmos; e tudo o mais dependerá de ordem judicial, inclusive no caso de crimes contra honra. É nos momentos difíceis que devemos nos apegar aos valores e princípios que nos unem: soberania, democracia, liberdade e justiça. Como as demais instituições do país, o Judiciário está ao lado dos que trabalham a favor do Brasil e está aqui para defendê-lo.

Boa noite 247 - STF vê golpe articulado por Tarcísio e aliados para faci...

União nacional contra o tarifaço de Trump em defesa do Brasil, da democracia e da reeleição de Lula

União nacional contra o tarifaço de Trump em defesa do Brasil, da democracia e da reeleição de Lula Não há espaço para neutralidade diante de um ataque dessa gravidade 12 de julho de 2025, 15:54 h 177 Partilhas whatsapp-white sharing button 30twitter-white sharing button 32facebook-white sharing button 52email-white sharing button 2copy-white sharing button A decisão unilateral de Donald Trump de impor tarifas de 50% contra todos os produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos representa um inédito e frontal ataque aos interesses nacionais e à soberania do país. Em gesto inequívoco de arrogância imperialista, Trump interfere em assuntos internos do Brasil para livrar seu protegido, Jair Bolsonaro, de afinal responder por seus crimes. Bolsonaro fez todo tipo de coação para viciar as eleições de 2022. Ad loading Derrotado nas urnas, conspirou para impedir com um golpe militar a posse do vitorioso, o que incluiu plano de assassinato de Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes. A morte de Gilmar Mendes chegou também a ser cogitada. O tarifaço é uma ação assumidamente política, dirigida a enfraquecer o governo legítimo e legal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Diante desse ato hostil, não cabem tergiversações. O país precisa reagir não com divisão, mas com unidade. Deve superar disputas aceitáveis em conjunturas menos críticas. É hora de união contra o inimigo externo e seus agentes internos, os traidores da pátria, a seu serviço. É hora de um verdadeiro pacto nacional em defesa da pátria, da liberdade e da democracia. O Brasil precisa compreender que está sendo atacado não apenas em sua economia, mas, acima de tudo, em seus princípios mais fundamentais: a soberania popular, a independência nacional e o direito de decidir livremente seu destino. O presidente Lula, com equilíbrio e firmeza, já demonstrou que está à altura da responsabilidade histórica que lhe cabe. Sua longa trajetória internacional e o prestígio que reconquistou para o Brasil no cenário global o capacitam a articular uma resposta estratégica e soberana, tanto nos fóruns multilaterais quanto no comércio bilateral. Mais do que nunca, é essencial que os diferentes setores políticos e sociais compreendam que a defesa do governo Lula neste momento é, antes de tudo, a defesa do interesse nacional. Não há espaço para neutralidade diante de um ataque dessa gravidade. É tempo de união em torno de um projeto de país que recuse a submissão aos arreganhos de um tiranete estrangeiro em flerte aberto com a intervenção colonial. Desde a expulsão das últimas tropas portuguesas que resistiram à independência, o Brasil não enfrentava ato mais claro de guerra contra sua soberania. Em honra do sangue derramado pelos heróis da independência brasileira, é necessário contra-atacar. Essa reação deve enviar a mensagem mais clara e efetiva, na linguagem que todos entendam. Deve ferir o inimigo, frustrar suas ameaças e extirpar o tumor da traição que, disfarçada, ainda conspira contra a nação no interior da sociedade brasileira. A resposta está nas mãos do povo, de suas instituições e de suas lideranças. Reeleger Lula, neste cenário, não é apenas garantir a continuidade de um governo democrático, é afastar de vez qualquer ameaça existencial à autonomia do país. Está em jogo o direito do Brasil de decidir por si mesmo, sem pressões externas, sem chantagens, sem ameaças. Frente ao tarifaço de Trump e à infame traição bolsonarista ao país, o Brasil deve se unir. Deve enfeixar uma ampla aliança em defesa de sua soberania, de sua economia, de seu povo, de sua democracia. À luz da disputa que apenas se inicia, o país deve ter como referência a figura que, neste momento, por sua posição e história, além de preferências particulares, é capaz de encarnar os interesses e os ideais da nação ameaçada: o presidente Lula. Redação Brasil 247 avatar Conteúdo postado por: Redação Brasil 247

sexta-feira, 11 de julho de 2025

"É urgente insistir na diplomacia e refundar as estruturas de um verdadeiro multilateralismo"

Em artigo publicado em grandes jornais de 10 países, Lula critica tarifaços e exalta multilateralismo "É urgente insistir na diplomacia e refundar as estruturas de um verdadeiro multilateralismo" 11/07/2025 | 10h05 Compartilhe Em artigo publicado em grandes jornais de 10 países, Lula critica tarifaços e exalta multilateralismo O presidente Lula publicou artigo em grandes jornais de 10 países sobre a necessidade de construir uma nova ordem mundial, diante do desgaste do modelo que vigorava desde o fim da Segunda Guerra Mundial. No texto, ele dá exemplos de desgaste do antigo modelo, critica a aplicação da lei do mais forte entre as nações e aponta o multilateralismo como única saída. O artigo do presidente brasileiro foi publicado no Le Monde (França), El País (Espanha), The Guardian (Reino Unido), Der Spiegel (Alemanha), Corriere della Sera (Itália), Yomiuri Shimbun (Japão), China Daily (China), Clarin (Argentina) e La Jornada (México). O ICL Notícias publica a seguir o texto do presidente Lula: lula, brics (Ricardo Stuckert/PR) Não há alternativa ao multilateralismo O ano de 2025 deveria ser um momento de celebração dedicado às oito décadas de existência da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas pode entrar para a história como o ano em que a ordem internacional construída a partir de 1945 desmoronou. As rachaduras já estavam visíveis. Desde a invasão do Iraque e do Afeganistão, a intervenção na Líbia e a guerra na Ucrânia, alguns membros permanentes do Conselho de Segurança banalizaram o uso ilegal da força. A omissão frente ao genocídio em Gaza é a negação dos valores mais basilares da humanidade. A incapacidade de superar diferenças fomenta nova escalada da violência no Oriente Médio, cujo capítulo mais recente inclui o ataque ao Irã. A lei do mais forte também ameaça o sistema multilateral de comércio. Tarifaços desorganizam cadeias de valor e lançam a economia mundial em uma espiral de preços altos e estagnação. A Organização Mundial do Comércio foi esvaziada e ninguém se recorda da Rodada de Desenvolvimento de Doha. O colapso financeiro de 2008 evidenciou o fracasso da globalização neoliberal, mas o mundo permaneceu preso ao receituário da austeridade. A opção de socorrer super-ricos e grandes corporações às custas de cidadãos comuns e pequenos negócios aprofundou desigualdades. Nos últimos 10 anos, os US$ 33,9 trilhões acumulados pelo 1% mais rico do planeta é equivalente a 22 vezes os recursos necessários para erradicar a pobreza no mundo. O estrangulamento da capacidade de ação do Estado redundou no descrédito das instituições. A insatisfação tornou-se terreno fértil para as narrativas extremistas que ameaçam a democracia e fomentam o ódio como projeto político. Muitos países cortaram programas de cooperação em vez de redobrar esforços para implementar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030. Os recursos são insuficientes, seu custo é elevado, o acesso é burocrático e as condições impostas não respeitam as realidades locais. Não se trata de fazer caridade, mas de corrigir disparidades que têm raízes em séculos de exploração, ingerência e violência contra povos da América Latina e do Caribe, da África e da Ásia. Em um mundo com um PIB combinado de mais de 100 trilhões de dólares, é inaceitável que mais de 700 milhões de pessoas continuem passando fome e vivam sem eletricidade e água. Os países ricos são os maiores responsáveis históricos pelas emissões de carbono, mas serão os mais pobres quem mais sofrerão com a mudança do clima. O ano de 2024 foi o mais quente da história, mostrando que a realidade está se movendo mais rápido do que o Acordo de Paris. As obrigações vinculantes do Protocolo de Quioto foram substituídas por compromissos voluntários e as promessas de financiamento assumidas na COP15 de Copenhague, que prenunciavam cem bilhões de dólares anuais, nunca se concretizaram. O recente aumento de gastos militares anunciado pela OTAN torna essa possibilidade ainda mais remota. Os ataques às instituições internacionais ignoram os benefícios concretos trazidos pelo sistema multilateral à vida das pessoas. Se hoje a varíola está erradicada, a camada de ozônio está preservada e os direitos dos trabalhadores ainda estão assegurados em boa parte do mundo, é graças ao esforço dessas instituições. Em tempos de crescente polarização, expressões como “desglobalização” se tornaram corriqueiras. Mas é impossível “desplanetizar” nossa vida em comum. Não existem muros altos o bastante para manter ilhas de paz e prosperidade cercadas de violência e miséria. O mundo de hoje é muito diferente do de 1945. Novas forças emergiram e novos desafios se impuseram. Se as organizações internacionais parecem ineficazes, é porque sua estrutura não reflete a atualidade. Ações unilaterais e excludentes são agravadas pelo vácuo de liderança coletiva. A solução para a crise do multilateralismo não é abandoná-lo, mas refundá-lo sob bases mais justas e inclusivas. É este entendimento que o Brasil – cuja vocação sempre será a de contribuir pela colaboração entre as nações – mostrou na presidência no G20, no ano passado, e segue mostrando nas presidências do BRICS e da COP30, neste ano: o de que é possível encontrar convergências mesmo em cenários adversos. É urgente insistir na diplomacia e refundar as estruturas de um verdadeiro multilateralismo, capaz de atender aos clamores de uma humanidade que teme pelo seu futuro. Apenas assim deixaremos de assistir, passivos, ao aumento da desigualdade, à insensatez das guerras e à própria destruição de nosso planeta. Luiz Inácio Lula da Silva Presidente da República do Brasil

terça-feira, 10 de junho de 2025

BOLSONARO SE INCRIMINA, FALTA APENAS A SENTEÇA E ASSINAR A NOTA DE CULPA

Bolsonaro se incrimina 'A tentativa de golpe foi confirmada por quem mais teria interesse em negá-la', escreve o colunista Oliveiros Marques 10 de junho de 2025, 18:14 h 166 Partilhas whatsapp-white sharing button 3twitter-white sharing buttonfacebook-white sharing button 163email-white sharing buttoncopy-white sharing button 🇬🇧 English Translate to English Ouvir artigoÍcone de conversão de texto em fala Jair Bolsonaro Jair Bolsonaro (Foto: Fellipe Sampaio/STF) Bluesky LogoBluesky Bluesky LogoThreads Apoie o 247Siga-nos no Google News Bolsonaro deveria ter optado pelo silêncio. A análise de discurso de todo o seu depoimento o coloca, a passos largos, rumo a um dos corredores da Papuda. A síntese perfeitamente clara - tanto do que disse quanto do que deixou de dizer - é que, sim, o Brasil viveu momentos à beira de uma ruptura com o Estado Democrático de Direito. Um golpe. Como se estivesse prestando depoimento a três surdos e cegos, e como se a audiência em rede nacional fosse composta apenas por imbecis, Bolsonaro admitiu com absoluta naturalidade ter realizado reunião com comandantes das Forças Armadas, na qual foi discutida a minuta do golpe. Com direito à projeção em uma televisão, segundo suas próprias palavras. A tentativa de golpe, portanto, foi confirmada por quem mais teria interesse em negá-la. Ad loading Mas ele foi além. Confessou também que o estado de sítio - ou a decretação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), e portanto o avanço do golpe - só não prosperou porque não encontrou apoio suficiente entre setores militares, que foram ouvidos por ele, e de parte da sociedade civil. Apesar de tentar transformar o banco dos réus do Supremo Tribunal Federal em uma extensão do seu “cercadinho”, posando de bom moço e tentando suavizar seus modos grotescos, o ex-presidente se embaraçou. Ao não negar nenhum conteúdo da acusação, acabou reforçando a tese da Procuradoria-Geral da República que sustenta sua culpa. Ele reconheceu, inclusive, que houve conversas golpistas após o resultado das eleições - resultado que se recusava a “entubar”. Disse que eram reuniões informais. Ora, o presidente da República é presidente 24 horas por dia. Não existe “informalidade” em encontros com autoridades, ainda mais realizados em espaços oficiais. E muito menos quando essas reuniões são convocadas e conduzidas exclusivamente com representantes das Forças Armadas. E, diferente do que declarou em Ceilândia, durante a campanha de 2022 - quando, em relação a uma menina de 14 anos, afirmou que “pintou um clima”, numa clara e repugnante alusão sexual -, em seu depoimento ao STF disse que “não havia clima” para o golpe. O subtexto dessa fala é revelador: ou seja, se “houvesse clima”, a minuta teria virado decreto e sido assinada. Mais uma vez, ele próprio confirma a tentativa de golpe. Usando da retórica para se proteger, afirmou que militares não cumprem ordens ilegais. Vá dizer isso para D. Pedro II, para Getúlio Vargas e para João Goulart. A verdade é que, desta vez, o tecido social brasileiro se mostrou mais firme do que em outros tempos - e esse, provavelmente, foi o fator decisivo ponderado na tal reunião com os comandantes militares, que fez com que o golpe parasse na tentativa. * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

"SABEM QUE ESTÃO CONDENADOS'

"Sabem que estão condenados", diz Kakay sobre Bolsonaro e cúmplices da quadrilha golpista Advogado analisa defesas de Ramagem e Mauro Cid em envolvimento em tentativa de golpe e explica panorama juridico do julgamento no STF Créditos: Sergio Dutti/UOL/Folhapress Alice Andersen Por Alice Andersen Escrito en POLÍTICA el 10/6/2025 · 12:00 hs Comparta este artículo Receber Notificações Push Em entrevista ao Jornal da Fórum nesta segunda-feira (9), o advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, falou sobre o primeiro dia dos interrogatórios de defesa no julgamento conduzido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), envolvendo Mauro Cid e Alexandre Ramagem, acusados de tentativa de golpe de Estado. O advogado expressou surpresa com a linha adotada pelos defensores, destacando a falta de uma discordância da ocorrência do crime. Conhecido por sua longa trajetória na defesa de réus em cortes superiores, Kakay destacou a particularidade dessa fase processual. Questionado sobre sua percepção do desenrolar do julgamento, afirmou ter acompanhado de perto a fase dos interrogatórios e explicou a diferença crucial entre o depoimento de uma testemunha e o de um réu no processo penal brasileiro. "O interrogatório é a única fase no processo penal brasileiro em que o réu tem fala. Ele faz a própria defesa, né? Todo o tempo do processo, quem produz a defesa são os advogados, a defesa técnica", disse. O criminalista ressaltou que, enquanto a testemunha é obrigada a responder sobre fatos de seu conhecimento, o réu no Brasil tem o direito de não produzir provas contra si e pode, inclusive, mentir. "É muito difícil você ver o interrogatório de um réu que seja absolutamente importante para poder absorver a pessoa. Por quê? Porque o réu vai pra lá falar que é inocente mesmo, essa é a regra." Sobre o depoimento de Mauro Cid, que é delator no processo, Kakay avaliou que foi “técnico, muito bom e bastante razoável para a manutenção” da delação. Ele minimizou episódios como o nervosismo do réu ao ser questionado sobre o uso de redes sociais, dizendo que, para o conjunto probatório, isso é “zero relevante”. O criminalista observou um clima de tensão entre os advogados de defesa: “Todo mundo sabe de que os clientes estão condenados agora. Espero que eles tenham feito bons honorários iniciais e não honorários de êxito” A apatia observada entre os defensores está ligada à força das provas e à dificuldade de sustentar teses de inocência diante de fatos já consolidados, segundo Kakay. “O que mais me impressionou até agora é que eu não vi nenhum daqueles advogados ali, alguns com bastante experiência, alguns chegarem lá e partirem pra cima do Ministério Público pra dizer que isso é um absurdo, é uma falácia, uma interpretação absolutamente marginal." "Oito advogados assumiram a tribuna, nenhum negou o crime. Nenhum advogado sentou lá e falou, isso é um absurdo, não houve crime, isso é uma falácia, meu cliente é inocente, porque o crime não ocorreu. Nada. O que eles fizeram foi, com respeito todo que tem pela advocacia, na ampla defesa, foi tentar mostrar que, de alguma forma, a pessoa que ele tava defendendo não participou do ato em si" Para ele, muitos profissionais têm dificuldade em assumir a defesa de acusados em casos tão sensíveis, especialmente quando há um viés democrático envolvido. “É difícil você advogar num momento deste do Brasil, em que quase tivemos um golpe, e você advogar sendo um democrata e pegar e subir na tribuna do Supremo Tribunal, que foi depredado, que o relator falou não era pra soltar as demais autoridades, mas você ficaria preso, que tinha um golpe pra matar, pelo menos o presidente da República e o ministro supremo, que tinha uma tentativa de fechar o Supremo Tribunal, como é que você vai assentar?” Kakay trouxe à tona um caso de experiência própria. "Não estou criticando, só comentando. Desde o primeiro momento, nós optamos no escritório por não pegar nenhum, ninguém que está envolvido de 8 de janeiro, ninguém. Fomos procurados por empresários, no momento X específico, exatamente porque eu sei que eu não poderia fazer essa entrega visceral pra causa." Ainda refletindo sobre a postura dos advogados na tribuna do STF, ele relembrou casos em que alguns defensores tentaram adotar uma linha mais agressiva, mas perderam o tom técnico: “Teve momentos nesse processo em que certo advogado chegou a dizer que os ministros do Supremo eram os mais odiados do Brasil. Nenhuma técnica, entendeu?” Condenação é certa A previsão é que as penas para os líderes da organização criminosa possam chegar a até 32 anos de prisão, considerando o volume e a gravidade das provas, de acordo com Kakay. “O processo penal que tá sendo feito nesse núcleo social, ele é abundante de provas que foram encontrados em computadores, em telefones, provas testemunhais, ou seja, o processo está cumprindo o rito democrático normal do processo penal democrático.” "É importante acompanhar esses interrogatórios agora, até porque o cidadão está no desespero, sabe que até meio de agosto ele vai estar condenado a 30 anos, provavelmente cadeia, 28, 30, 32. Porque, veja bem, se o cara que estava lá fazendo a bucha de canhão, tentando ajudar o golpe, foi condenado a 14, porque são cinco crimes, pena menor em cada um, somado em concurso dá 12, 14, 16, você imagine agora onde estão os líderes da organização criminosa", observa. O julgamento em curso de todos os golpistas é um momento singular no país, tanto pela importãncia histórica para um país marcado por golpes ao longo de sua história quanto pela defesa diante da justiça mais alta do país. “Você vai assumir a tribuna do Supremo e o golpe é fechar o Supremo. Entendeu? Talvez venha daí a sua perplexidade”, completou o advogado

segunda-feira, 9 de junho de 2025

BOLSONARO NO BANCO DOS RÉUS É "MOMENTO HISTÓRICO"

Bolsonaro no banco dos réus é "momento histórico", diz Gleisi "Que nunca mais voltem a ameaçar o país e a democracia”, adverte a ministra 09 de junho de 2025, 08:31 hAtualizado em 09 de junho de 2025, 09:10 h 55 Partilhas whatsapp-white sharing button 8twitter-white sharing button 7facebook-white sharing button 40email-white sharing buttoncopy-white sharing button 🇬🇧 English Translate to English Ouvir artigoÍcone de conversão de texto em fala Gleisi Hoffmann Gleisi Hoffmann (Foto: Gil Ferreira/SRI) Bluesky LogoBluesky Bluesky LogoThreads Apoie o 247Siga-nos no Google News Otávio Rosso avatar Conteúdo postado por: Otávio Rosso 247 - A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), destacou a relevância histórica do julgamento de Jair Bolsonaro (PL), que dá um passo importante nesta segunda-feira (9) com os depoimentos dos integrantes do “núcleo 1” da trama golpista, incluindo o ex-presidente. As audiências seguirão até sexta-feira (13) e representam o desfecho da etapa de instrução final do processo sobre a tentativa de golpe de Estado no Brasil em 2022. “Nesta segunda-feira, Jair Bolsonaro estará sentado no banco dos réus, que é o lugar dele no estado democrático de direito. No STF, será interrogado na ação penal que responde com seus cúmplices pela tentativa de golpe contra a posse do presidente Lula, eleito em 2022”, disse Gleisi. Play Video A ministra apontou para a hipocrisia de Bolsonaro, que teve todas as garantias do devido processo legal, ao contrário do que teria em uma eventual ditadura. “Bolsonaro teve e terá, ao longo da ação, todas as garantias do devido processo legal, diferentemente do que acontece nas ditaduras que ele defende e tentou impor novamente ao Brasil. O julgamento de seus crimes é a melhor resposta às mentiras que ele, seus familiares e cúmplices espalham pelo mundo, difamando o Brasil, em busca de uma intervenção estrangeira na Justiça e na política em nosso país”, criticou. Gleisi concluiu afirmando que o julgamento é um “momento histórico”. “Estarão junto com ele, no banco dos réus, a violência política, o discurso de ódio, a rede de mentiras e todos os recursos que a extrema-direita empregou para usurpar o poder. É um momento histórico que vamos presenciar, para que nunca mais voltem a ameaçar o país e a democracia”, completou.

domingo, 8 de junho de 2025

LULA É LÍDER MUNDIAL CONSAGRADO EM AMBIENTE DOMÉSTICO DESAFIADOR

Lula é um líder mundial consagrado em ambiente doméstico desafiador O mesmo Lula que é reverenciado em Paris enfrenta uma realidade distinta em seu próprio país – e isso se deve ao cerco midiático contra sua reeleição 08 de junho de 2025, 02:51 h 207 Partilhas whatsapp-white sharing button 39twitter-white sharing button 18facebook-white sharing button 124email-white sharing button 7copy-white sharing button A recente visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à França foi mais do que uma demonstração de diplomacia: foi a consagração de uma liderança mundial. Nenhum outro brasileiro, em nenhum tempo, desfrutou de tamanho prestígio internacional. Recebido com honras pelo presidente Emmanuel Macron, Lula não apenas consolidou laços políticos e econômicos com um dos principais países da União Europeia, mas também foi alvo de reverências raras no cenário global. Lula foi homenageado pela prestigiada Academia Francesa, uma instituição guardiã da cultura e do pensamento franceses. Também recebeu distinções da Universidade de Paris e da prefeita da capital, Anne Hidalgo, que o qualificou como um símbolo global da justiça social e da luta contra a desigualdade. Tais homenagens não são apenas protocolares — elas refletem o reconhecimento de um estadista cuja trajetória inspira além das fronteiras nacionais. Play Video Paradoxalmente, o mesmo Lula que é reverenciado em Paris enfrenta uma realidade distinta em seu próprio país. As duas pesquisas mais recentes — tanto da Genial/Quaest quanto da AtlasIntel — apontam para uma piora na avaliação de seu governo. A aprovação caiu nos dois levantamentos, acompanhada por um avanço de hipotéticos adversários nas intenções de voto para a eleição presidencial de 2026. O presidente, que no início do mandato parecia consolidar uma ampla frente de apoio, agora vê-se diante de um ambiente político potencialmente mais hostil. O paradoxo torna-se ainda mais evidente diante dos bons indicadores econômicos. O Brasil registra crescimento acima das expectativas, com avanço do PIB, distribuição de renda mais justa, valorização do real, queda da inflação, num contexto de responsabilidade fiscal e forte geração de empregos. Ainda assim, tais dados positivos parecem não se converter, ao menos por ora, em capital político tranquilizador. Essa desconexão aponta para algo mais profundo: a formação de um cerco oposicionista que não se limita à crítica política, mas que busca minar, desde já, a viabilidade de uma eventual reeleição. O bolsonarismo, mesmo sem liderança formal e enfrentando impasses judiciais, permanece como um polo mobilizador nas redes e nas ruas. E há ainda a ação do consórcio de setores da elite econômica e da mídia hegemônica que nunca aceitaram o retorno de Lula ao Planalto. É necessário dizer com clareza: Lula merece todas as homenagens que recebeu em Paris. Nenhum outro brasileiro é tão reconhecido e celebrado internacionalmente quanto ele — e talvez jamais venha a ser. Mas o desafio que se impõe a ele agora é outro: fazer com que o Brasil enxergue o que o mundo já reconhece. As condições para isso estão dadas. Se Lula quiser transformar prestígio internacional em força política interna, será preciso mais do que indicadores positivos — será necessária comunicação direta, enfrentamento firme das forças antidemocráticas e reconstrução de pontes com os setores que hoje se mostram indiferentes ou críticos. Bons índices são importantíssimos. Não são, porém, suficientes para a vitória numa campanha que se anuncia feroz, marcada pelas práticas criminosas dos adversários. O fator decisivo para a vitória será conseguir pôr em ação instrumentos políticos capazes de unir os democratas contra o fascismo numa frente a mais ampla possível. Igualmente, será necessário energizar os setores sociais na defesa das conquistas obtidas. Na cadeira de presidente, Lula dispõe de meios para engajar a sociedade em favor das transformações que traduzem este seu terceiro mandato. É pelo aprofundamento das mudanças que se justifica uma nova postulação presidencial. O tempo joga a favor ou contra, a depender da conduta a ser adotada. Redação Brasil 247 avatar Conteúdo postado por: Redação Brasil 247

sábado, 31 de maio de 2025

DE AUSCHWITZ A GAZA

De Auschwitz a Gaza Gaza foi transformada no maior campo de concentração a céu aberto jamais conhecido pela humanidade 31 de maio de 2025, 13:15 h
Israel já assassinou mais de 16.500 crianças em Gaza durante o genocídio Israel já assassinou mais de 16.500 crianças em Gaza durante o genocídio (Foto: Reuters) Bluesky LogoBluesky Bluesky LogoThreads Apoie o 247Siga-nos no Google News Gaza foi transformada no maior campo de concentração a céu aberto jamais conhecido pela humanidade. Um inimaginável “corredor da morte” onde o povo palestino, mais da metade crianças, aguarda a condenação sem sursis ditada pelo inimigo luciferino assustadoramente belicoso e perverso. E, na mesma medida, covarde. O governo sionista de Israel promove, há meses, sob as vistas cegas da comunidade internacional, cínica, uma declarada limpeza étnica. Nesse verdadeiro “campo de concentração e extermínio” os desgraçados não caminham com seus próprios pés para as câmaras de gás a que eram condenadas as vítimas do nazismo: são destroçados pelas bombas do moderníssimo exército do Estado de Israel, fundado em 1947 sob os auspícios da ONU exatamente para garantir um lar ao povo sobrevivente do holocausto. Como os judeus de ontem, os palestinos de hoje não têm condições de defesa; mas sobre eles (como se a fome, o vilipêndio e o roubo de suas terras não fossem suficientes) um poderoso exército – aviões supersônicos, drones, mísseis, tanques de guerra e toda sorte de artilharia – vomita bombas. Trata-se de um genocídio operado às claras e à sombra da iniquidade moral de uma comunidade internacional que a tudo assiste impassível. Ao contrário dos prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz, as vítimas de hoje não podem sonhar com a libertação do Exército Vermelho, que em janeiro de 1945 avançou sobre a Polônia a caminho de Berlim. Ninguém marcha em seu socorro. Estão abandonadas “à própria sorte”, que se tem revelado madrasta. Os que escaparem do cerco de Gaza já estão condenados à ausência de futuro: sem pátria e sem terra, não terão para onde ir. São pobres, e não dispõem de uma cadeia de proteção espalhada pelo mundo; são os novos condenados da terra. Sem “salvação prometida”, foram condenados ao desterro, caminharão sem destino, desfeitos os sonhos, perdidas as esperanças mais modestas. Em 1947, a Palestina, então ocupada por 600 mil judeus e 1,3 milhão de árabes (dos quais cerca de 700 mil palestinos foram expulsos), seria partilhada para que ali se instalassem dois Estados, um judeu (o futuro Estado de Israel) e outro árabe. O primeiro se estabeleceu, e sabe-se o que é ele hoje. O outro, passados 78 anos, aguarda o reconhecimento internacional que lhe é negado. Lideram a recusa os EUA e sua coorte: Reino Unido, Alemanha e a maioria da União Europeia. Israel ocupa e bloqueia os territórios palestinos da Cisjordânia, de Jerusalém Oriental e de Gaza, onde deita e rola desde a invasão de 1967, no curso da “Guerra dos Seis Dias”. Os palestinos de Gaza são um povo cativo em um país ocupado para ser destruído, hermeticamente bloqueado, privado de combustível, eletricidade, água, alimentos e remédios, com sua infraestrutura civil destruída, as escolas postas abaixo, e os hospitais à mercê dos bombardeios. As estimativas falam em algo como 35 e 45 mil vítimas civis. Mais de 15 mil crianças já morreram, e a ONU adverte que outras, mais de 15 mil bebês, ainda podem morrer se o governo de Israel continuar bloqueando a entrada de alimentos e remédios. A propósito, o insuspeitíssimo Estadão (29/5/25), claramente vinculado aos interesses da direita internacional, reproduz matéria de agência de notícias estrangeira sob o seguinte título: “Palestinos famintos invadem centro de distribuição de comida”. Abaixo estampa foto de multidão de jovens e velhos, todos famélicos, disputando uma cuia de farinha ou um naco de pão. Enquanto a comunidade internacional se omite, e o sionismo aplaude os crimes de guerra, Ehud Olmert, ex-primeiro ministro de Israel (2006-2009), define a política sionista como “perversa, maliciosa e irresponsável”. É preciso ouvi-lo: “Netanyahu, tipicamente, tenta obscurecer o tipo de ordens que vem dando, a fim de se esquivar de responsabilidade legal e criminal no devido tempo. Mas alguns de seus lacaios dizem isso abertamente: ‘Sim, vamos matar Gaza de fome’”. Acusa: “Israel está cometendo crimes de guerra”. Ehud Olmert certamente identifica como lacaios do genocida personagens como o ex-ministro e ex-deputado e líder direitista Moshe Feiglin, fundador do Zehut. Vejamos o que declarou em entrevista ao Canal 14, da televisão israelense: “Toda criança, todo bebê em gaza é um inimigo. O inimigo não é o Hamas, nem a ala militar do Hamas. Toda criança em Gaza é um inimigo. Temos que conquistar Gaza e colonizá-la e não deixar uma só criança lá. E não há outra vitória”. O conteúdo do áudio foi registrado pelo The Guardian e correu o mundo, sem, contudo, despertar o menor interesse da grande imprensa brasileira. Ao contrário dos nazistas, que tentavam esconder o holocausto, o genocídio levado a cabo contra os palestinos é escancarado, exposto ao mundo, tonitruado e exaltado pelos dirigentes de Israel e dos EUA, a potência imperial que lhes fornece apoio político, econômico, militar e logístico. Ao contrário do povo alemão, que alegava desconhecer os consabidos crimes do nazismo, a população de Israel aplaude o genocídio. Segundo pesquisa encomendada pela Penn State University, e analisada por Tamir Sorek, “82% dos judeus-israelenses apoiam a limpeza étnica de Gaza, enquanto 56% apoiam a expulsão de palestinos com cidadania israelense, comumente designados pelo léxico colonial como árabes-israelenses, e 47% concordam com a matança de palestinos em áreas conquistadas por Israel”. A visão fundamentalista, messiânica e supremacista, todavia, não muda, quando, diz a pesquisa, é ouvido o público secular: “69% dos secularistas apoiam a expulsão forçada dos moradores de Gaza, e 31% deles veem o extermínio dos moradores de Jericó como um precedente que as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) deveriam adotar.” Os últimos acontecimentos, porém, e o temor de que a barbárie sionista torne impossível o retorno dos reféns ainda nas mãos do Hamas, podem mudar o quadro interno. Registram-se as primeiras reações populares contra os reiterados crimes de guerra do Estado sionista. Manifestações de protestos surgem em várias capitais europeias. A tudo o que se sabe e não se pode mais ignorar, a imprensa mainstream batiza de “a guerra de Gaza”, como se estivéssemos em face do confronto entre dois exércitos. Assim participa da “guerra”, manipulando a informação, uma de suas frentes mais importantes. Ecoa a narrativa ideológica que interessa a sionismo, e ainda distorce ao reiterar que as ações militares têm os guerrilheiros do Hamas como alvo, quando qualquer análise fria põe a nu que o objeto dos massacres é uma hedionda limpeza étnica. É preciso denunciar e repetir à exaustão. Agências internacionais, em meados deste maio, estimavam algo entre 35 e 40 mil como o número de vítimas civis fatais em Gaza. Ainda é impossível calcular o número de feridos e mutilados e invalidados. Mas já se pode dizer que todos perderam seus bens e a cidade foi reduzida a nada. Onde já se comemorou a vida, onde um dia foi possível acreditar no futuro, apostar no sonho de um novo lar, o sionismo construiu um grande túmulo; nele se misturam vidas mortas e ruínas. Os palestinos amargam a angústia de não saberem até quando estarão vivos. Nosso silêncio, nossa inação, como povo, como sociedade, como agentes políticos, o silêncio de nossas organizações, a apatia da academia, o sono dos sindicatos, a miséria de nossos partidos, nossa pobreza revolucionária, nosso recuo diante do establishment serão registrados pela História como cumplicidade moral. Do nosso governo é justo esperar algo mais que a justa retórica. A miséria nazista, que atingiu de forma bruta e até então impensável os judeus, os comunistas, os progressistas e o pensamento de esquerda de um modo geral, os homossexuais, os ciganos, os doentes mentais, os dissidentes – a miséria dos crimes de guerra cometidos na Segunda Guerra –, foi condenada tanto pela indignação ética do mundo que então se recompunha, quanto pelo direito internacional, erguido pelo poder vencedor dos aliados. O direito carece da força para se impor. Quase todos os criminosos de guerra do Eixo (afora os que se suicidaram, como Hitler) foram julgados e condenados pelo Tribunal de Nurenberg. Ocorre que os criminosos de hoje são os que controlam a força que controla o direito. Os crimes de guerra dos EUA no Vietnã foram julgados pelo Tribunal Russell. Na altura, era o máximo possível diante da potência guerreira. Não implicou consequências objetivas, não evitou novas invasões, nem novas ocupações, nem novos crimes de guerra, mas, pelo menos, pode-se dizer que nossa consciência crítica, com aquele gesto de notável carga simbólica, rompeu com a inércia moral, e, não podendo intervir no processo histórico, deixamos nosso testemunho. A posteridade julgará os omissos. Desprotegida do que ainda chamamos de civilização, que dela se apartou, Gaza, vazia e morta, logo se transformará na formosa Riviera dos sonhos imobiliários de Trump. Suas praias, nas margens orientais do Mar Negro, hoje interditadas, em breve estarão liberadas. Bem guardadas, serão desfrutadas por brancos europeus, norte-americanos e israelenses endinheirados, livres de palestinos e dos pobres de um modo geral. Não será ainda o grande sonho, mas pode ser a nano sugestão de uma terra prometida. *** A miséria nossa de cada dia I – Se a sociedade se cala, o Senado Federal altera a voz. No último 20 de maio a chamada Câmara Alta aprovou, por injustificável unanimidade, isto é, com os votos dos partidos conhecidos como progressistas, projeto de lei que institui o dia 12 de abril como o “Dia da Amizade Brasil-Israel”, que nunca esteve tão rala como agora. E esmerou-se na escolha do pior momento, exatamente quando o Estado sionista intensifica o genocídio de que é vítima o povo palestino. Resta saber se o presidente da República terá força política para vetá-lo. Abraços ao sempre mestre Paulo Sérgio Pinheiro, que nos honrou com seu protesto. A miséria nossa de cada dia II - O Senado se esmera no esforço por auto desqualificar-se. Isso não é bom para a República, nem muito menos para a democracia, fundada na representação popular. No dia 27 de maio, a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, compareceu à Comissão de Infraestrutura para discorrer sobre “a criação de unidade de conservação marinha na margem equatorial do Amapá”. Abordou o tema requerido, mas por ele não se interessaram os senadores. Isso não lhes dizia respeito: o convite se convertera em mero despiste para uma cilada. Ao invés de debater com a Ministra, os senadores, agindo como coletivo, partiram para o ataque gratuito, e a agrediram, no limite da ofensa física. Abusaram dos gritos, da tentativa de desconstituição política e pessoal, abusaram dos insultos, mesmo daqueles descabidos em roda de bar de beira de estrada. Abusaram da prepotência machista, da misoginia, do racismo e da exposição dos preconceitos os mais repugnantes. Exaltaram-se na defesa lobista dos negócios de empreiteiras, dos capitães de motosserra e dos interesses inconfessáveis, mas conhecidos, que se levantam contra a proteção do meio-ambiente, que, ao fim e ao cabo, é a defesa da vida. A comissão saiu-se mal, os senadores saíram-se mal (todos, os grosseirões e os que fugiram da defesa da ministra), mas ela saiu-se muito bem, fez-se forte ante os que queriam enfraquecê-la; saiu limpa e digna como entrou. Fico de pé para aplaudir Marina Silva. Enfim, há o que saudar – Em meio a tanto mal-estar, em meio ao choro de saudade de tanta gente que partiu aumentando nosso vazio, há uma alegria por festejar: os prêmios de Kleber Mendonça e Wagner Moura, dois intelectuais comprometidos com a construção de uma nova ordem social. * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

domingo, 25 de maio de 2025

DILMA ANISTIADA E MILITARES A CAMINHO DA CADEIA

Dilma anistiada e militares a caminho da cadeia Hoje anistiada e reconhecida globalmente, Dilma simboliza a resistência que atravessa décadas 24 de maio de 2025, 20:54 h 174 Partilhas whatsapp-white sharing button 52twitter-white sharing button 36facebook-white sharing button 69email-white sharing button 6copy-white sharing button A justiça histórica, ainda que tardia, parece estar se desenhando no horizonte político brasileiro. De um lado, a ex-presidenta Dilma Rousseff, anistiada e indenizada pelo Estado pelo sequestro e torturas brutais sofridas nas masmorras do DOI-CODI durante a ditadura militar, recebe um reconhecimento formal de sua luta pela democracia. Do outro, os militares e civis que planejaram assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin, o ministro do STF Alexandre de Moraes, o ex-ministro José Dirceu em 2022, além de invadir os Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 e matar "muito mais gente", enfrentam a cadeia — ironia cruel para quem se inspirava nos métodos do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o "Dr. Tibiriçá", chefe e executor do mesmo aparelho repressivo que torturou Dilma e centenas de outros resistentes. Dilma se destaca não apenas por seu passado de resistência à ditadura, mas por seu desprendimento ilimitado, à custa da própria vida, pela democracia. Como presidenta, honrou os mandatos duas vezes recebidos do eleitorado. Governou com honestidade exemplar, sendo derrubada por um golpe parlamentar sem que houvesse qualquer crime de responsabilidade que justificasse seu impeachment. Sua queda foi um ataque à vontade popular, já que 54 milhões de brasileiros a elegeram — um mandato legítimo rasgado por interesses escusos. Play Video Hoje, Dilma é consagrada internacionalmente em reconhecimento por seu árduo e brilhante desempenho à frente do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, onde teve seu mandato renovado por mais cinco anos devido à sua competência na gestão de projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável. Uma trajetória que contrasta com a dos golpistas de 2016, hoje derrotados nas urnas, com alguns de seus títeres destinados à prisão. Golpistas de 2022-2023, autointitulados "Punhal Verde e Amarelo", agiram como discípulos fanáticos de Ustra. Planejaram envenenar Lula, explodir Moraes com granadas e usar um arsenal de guerra — incluindo metralhadoras e lança-rojões — para consumar um golpe que tendia a superar em crueldade os piores pesadelos da ditadura. Seus líderes, como o general Mário Fernandes (ex-assessor de Bolsonaro), eram os mesmos que, em 8 de janeiro, coordenaram a invasão dos palácios enquanto bajulavam a herança sanguinária de Ustra — tal como Bolsonaro fez em 2016, ao homenagear o torturador durante o impeachment de Dilma, chamando-o de "o terror da presidenta". A conexão é óbvia: a extrema-direita brasileira, derrotada nas urnas, recorre sempre aos mesmos métodos. Se nos anos 1970 usavam cassetetes e choques elétricos, hoje armam milicianos digitais e militares radicalizados. Mas a resposta democrática tem sido igualmente clara. A CPMI do 8 de Janeiro revelou como o golpe foi urdido nos gabinetes do governo Bolsonaro. O STF agora, de maneira inédita na história, não hesita em levar ao banco dos réus os terroristas de fato — ao contrário da impunidade que Ustra desfrutou em vida. Dilma, hoje anistiada e reconhecida globalmente, simboliza a resistência que atravessa décadas. Sua tortura nos porões da ditadura, seu impeachment fraudulento em 2016 e sua ascensão ao BRICS são capítulos da mesma guerra: a da democracia contra os que a veem como um incômodo. A diferença é que, desta vez, os algozes não escaparão. Se Ustra morreu sem cumprir pena, seus herdeiros políticos — os "kids pretos" e seus mandantes — terão de responder perante a lei. O passado não se repete como farsa, mas como tragédia desmascarada e como reparação da verdade, da memória e da justiça a uma heroína da Pátria. Redação Brasil 247 avatar Conteúdo postado por: Redação Brasil 247 Tags Dilma Dilma Rousseff anistia militares golpismo punhal verde e amarelo 8 de janeiro Relacionados 'Dilma é uma guerreira que lutou contra a ditadura', celebra Jorge Messias após anistia para ex-presidente Brasil 'Dilma é uma guerreira que lutou contra a ditadura', celebra Jorge Messias após anistia para ex-presidente Comissão concede anistia a Dilma Rousseff por perseguição e tortura sofrida durante a ditadura militar Brasil Comissão concede anistia a Dilma Rousseff por perseguição e tortura sofrida durante a ditadura militar Gleisi: anistia a Dilma é "reparação histórica" Brasil Gleisi: anistia a Dilma é "reparação histórica"
Dilma anistiada e militares a caminho da cadeia Hoje anistiada e reconhecida globalmente, Dilma simboliza a resistência que atravessa décadas 24 de maio de 2025, 20:54 h A justiça histórica, ainda que tardia, parece estar se desenhando no horizonte político brasileiro. De um lado, a ex-presidenta Dilma Rousseff, anistiada e indenizada pelo Estado pelo sequestro e torturas brutais sofridas nas masmorras do DOI-CODI durante a ditadura militar, recebe um reconhecimento formal de sua luta pela democracia. Do outro, os militares e civis que planejaram assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin, o ministro do STF Alexandre de Moraes, o ex-ministro José Dirceu em 2022, além de invadir os Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 e matar "muito mais gente", enfrentam a cadeia — ironia cruel para quem se inspirava nos métodos do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o "Dr. Tibiriçá", chefe e executor do mesmo aparelho repressivo que torturou Dilma e centenas de outros resistentes. Dilma se destaca não apenas por seu passado de resistência à ditadura, mas por seu desprendimento ilimitado, à custa da própria vida, pela democracia. Como presidenta, honrou os mandatos duas vezes recebidos do eleitorado. Governou com honestidade exemplar, sendo derrubada por um golpe parlamentar sem que houvesse qualquer crime de responsabilidade que justificasse seu impeachment. Sua queda foi um ataque à vontade popular, já que 54 milhões de brasileiros a elegeram — um mandato legítimo rasgado por interesses escusos. Hoje, Dilma é consagrada internacionalmente em reconhecimento por seu árduo e brilhante desempenho à frente do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, onde teve seu mandato renovado por mais cinco anos devido à sua competência na gestão de projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável. Uma trajetória que contrasta com a dos golpistas de 2016, hoje derrotados nas urnas, com alguns de seus títeres destinados à prisão. Golpistas de 2022-2023, autointitulados "Punhal Verde e Amarelo", agiram como discípulos fanáticos de Ustra. Planejaram envenenar Lula, explodir Moraes com granadas e usar um arsenal de guerra — incluindo metralhadoras e lança-rojões — para consumar um golpe que tendia a superar em crueldade os piores pesadelos da ditadura. Seus líderes, como o general Mário Fernandes (ex-assessor de Bolsonaro), eram os mesmos que, em 8 de janeiro, coordenaram a invasão dos palácios enquanto bajulavam a herança sanguinária de Ustra — tal como Bolsonaro fez em 2016, ao homenagear o torturador durante o impeachment de Dilma, chamando-o de "o terror da presidenta". A conexão é óbvia: a extrema-direita brasileira, derrotada nas urnas, recorre sempre aos mesmos métodos. Se nos anos 1970 usavam cassetetes e choques elétricos, hoje armam milicianos digitais e militares radicalizados. Mas a resposta democrática tem sido igualmente clara. A CPMI do 8 de Janeiro revelou como o golpe foi urdido nos gabinetes do governo Bolsonaro. O STF agora, de maneira inédita na história, não hesita em levar ao banco dos réus os terroristas de fato — ao contrário da impunidade que Ustra desfrutou em vida. Dilma, hoje anistiada e reconhecida globalmente, simboliza a resistência que atravessa décadas. Sua tortura nos porões da ditadura, seu impeachment fraudulento em 2016 e sua ascensão ao BRICS são capítulos da mesma guerra: a da democracia contra os que a veem como um incômodo. A diferença é que, desta vez, os algozes não escaparão. Se Ustra morreu sem cumprir pena, seus herdeiros políticos — os "kids pretos" e seus mandantes — terão de responder perante a lei. O passado não se repete como farsa, mas como tragédia desmascarada e como reparação da verdade, da memória e da justiça a uma heroína da Pátria. Redação Brasil 247 avatar Conteúdo postado por: Redação Brasil 247 Tags Dilma Dilma Rousseff anistia militares golpismo punhal verde e amarelo 8 de janeiro Relacionados 'Dilma é uma guerreira que lutou contra a ditadura', celebra Jorge Messias após anistia para ex-presidente Brasil 'Dilma é uma guerreira que lutou contra a ditadura', celebra Jorge Messias após anistia para ex-presidente Comissão concede anistia a Dilma Rousseff por perseguição e tortura sofrida durante a ditadura militar Brasil Comissão concede anistia a Dilma Rousseff por perseguição e tortura sofrida durante a ditadura militar Gleisi: anistia a Dilma é "reparação histórica" Brasil Gleisi: anistia a Dilma é "reparação histórica"

segunda-feira, 19 de maio de 2025

"STF impediu a marcha da insensatez de Bolsonaro"

"STF impediu a marcha da insensatez de Bolsonaro", diz Gilmar Mendes Ministro do Supremo critica projeto de anistia aos golpistas do 8 de janeiro e vê ofensiva bolsonarista contra a democracia 19 de maio de 2025, 04:05 h Redação Brasil 247 2 47 – Em entrevista concedida aos jornalistas Ricardo Noblat e Guga Noblat (assista aqui), o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), fez uma firme defesa da atuação da Corte nos últimos anos, especialmente durante a pandemia de Covid-19, e alertou para os riscos que projetos de anistia e propostas legislativas podem representar para a democracia brasileira. Ao comentar os ataques sofridos pelo Supremo e a queda de sua popularidade, Gilmar afirmou que a atuação do tribunal foi essencial para salvar vidas diante da omissão do governo Bolsonaro. “O tribunal impediu o governo de continuar com aquela marcha sem sentido que tínhamos — a marcha da insensatez, aquela ideia da imunidade de rebanho”, disse. Segundo ele, sem a intervenção da Corte, o governo teria prosseguido com uma política pública "sem sentido", o que poderia ter custado ainda mais vidas durante a crise sanitária. Redes sociais e desgaste institucional O ministro também refletiu sobre a deterioração da imagem do STF nos últimos anos, apontando o papel das redes sociais nesse processo. “Talvez tenhamos a nosso favor uma maioria silenciosa e contra nós uma minoria muito barulhenta”, avaliou. Para ele, a ascensão da desinformação e dos ataques orquestrados online tem influenciado negativamente a percepção pública sobre o Judiciário. Gilmar ainda destacou que a função do Supremo é, muitas vezes, “contramajoritária”, ou seja, deve resistir às pressões populares quando estas se contrapõem à Constituição. “O tribunal precisa nadar contra a corrente para defender os princípios constitucionais, mesmo que isso custe popularidade”, explicou. "STF impediu a marcha da insensatez de Bolsonaro", diz Gilmar Mendes Ministro do Supremo critica projeto de anistia aos golpistas do 8 de janeiro e vê ofensiva bolsonarista contra a democracia 19 de maio de 2025, 04:05 h 137 Partilhas whatsapp-white sharing button 5twitter-white sharing button 22facebook-white sharing button 93email-white sharing button 6copy-white sharing button Gilmar Mendes Gilmar Mendes (Foto: STF via Flickr) Bluesky LogoBluesky Bluesky LogoThreads Apoie o 247Siga-nos no Google News Redação Brasil 247 avatar Conteúdo postado por: Redação Brasil 247 247 – Em entrevista concedida aos jornalistas Ricardo Noblat e Guga Noblat (assista aqui), o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), fez uma firme defesa da atuação da Corte nos últimos anos, especialmente durante a pandemia de Covid-19, e alertou para os riscos que projetos de anistia e propostas legislativas podem representar para a democracia brasileira. Ao comentar os ataques sofridos pelo Supremo e a queda de sua popularidade, Gilmar afirmou que a atuação do tribunal foi essencial para salvar vidas diante da omissão do governo Bolsonaro. “O tribunal impediu o governo de continuar com aquela marcha sem sentido que tínhamos — a marcha da insensatez, aquela ideia da imunidade de rebanho”, disse. Segundo ele, sem a intervenção da Corte, o governo teria prosseguido com uma política pública "sem sentido", o que poderia ter custado ainda mais vidas durante a crise sanitária. Redes sociais e desgaste institucional O ministro também refletiu sobre a deterioração da imagem do STF nos últimos anos, apontando o papel das redes sociais nesse processo. “Talvez tenhamos a nosso favor uma maioria silenciosa e contra nós uma minoria muito barulhenta”, avaliou. Para ele, a ascensão da desinformação e dos ataques orquestrados online tem influenciado negativamente a percepção pública sobre o Judiciário. Gilmar ainda destacou que a função do Supremo é, muitas vezes, “contramajoritária”, ou seja, deve resistir às pressões populares quando estas se contrapõem à Constituição. “O tribunal precisa nadar contra a corrente para defender os princípios constitucionais, mesmo que isso custe popularidade”, explicou. Críticas à anistia e à ofensiva legislativa Questionado sobre o projeto em tramitação no Congresso que busca anistiar os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023, o ministro foi direto: “Estão usando casos como o da Débora do Batom mais para beneficiar a cúpula que eventualmente se envolveu em tropelias de golpe de Estado”. Ele alertou para o risco de se normalizar crimes contra a democracia sob o pretexto de pacificação. Gilmar também lembrou que iniciativas semelhantes existiram em regimes autoritários, como a Constituição de 1937, conhecida como “polaca”. “Esse dispositivo constava da polaca, que não era nada democrática. Getúlio usou esse dispositivo contra decisões do Supremo”, afirmou, em referência a projetos que visam submeter decisões do STF ao crivo do Congresso. Tentativas de ruptura e leniência com golpismo Durante a entrevista, o ministro recordou episódios em que temeu graves tumultos institucionais nos quatro anos do governo Bolsonaro. “Tivemos momentos de muita tensão, como o desfile de tanques na Esplanada e manifestações que ameaçavam o tribunal”, contou. Ele classificou como “leniente” a conduta de setores militares diante dos acampamentos golpistas em frente a quartéis. “O que nós fizemos para permitir que isso acontecesse? E o que devemos fazer para evitar que se repita?”, questionou Gilmar ao lembrar sua visita ao prédio do Supremo após os ataques de janeiro de 2023. Para ele, ainda falta clareza na definição do papel das Forças Armadas e de policiais militares em funções públicas civis, e o Congresso tem sido omisso ao não avançar com propostas que delimitem esses pontos. Diferença entre as anistias de 1979 e 2023 Ao ser confrontado com o argumento de que uma nova anistia seria coerente com a de 1979, Mendes foi categórico ao refutar a comparação: “A de 79 fazia parte de um processo de reconciliação após um período de exceção. Agora estamos vivendo um outro momento — estávamos em plena democracia, num ambiente de absoluta normalidade, quando veio o ataque. Isto não faz qualquer sentido”. Por fim, o ministro reiterou a necessidade de se preservar o Estado Democrático de Direito e chamou atenção para o papel do Judiciário na contenção de impulsos autoritários. “É possível que se vá tanto em termos de impunidade que se coloque em risco todo um processo civilizatório”, alertou. Críticas à anistia e à ofensiva legislativa Questionado sobre o projeto em tramitação no Congresso que busca anistiar os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023, o ministro foi direto: “Estão usando casos como o da Débora do Batom mais para beneficiar a cúpula que eventualmente se envolveu em tropelias de golpe de Estado”. Ele alertou para o risco de se normalizar crimes contra a democracia sob o pretexto de pacificação. Gilmar também lembrou que iniciativas semelhantes existiram em regimes autoritários, como a Constituição de 1937, conhecida como “polaca”. “Esse dispositivo constava da polaca, que não era nada democrática. Getúlio usou esse dispositivo contra decisões do Supremo”, afirmou, em referência a projetos que visam submeter decisões do STF ao crivo do Congresso. Tentativas de ruptura e leniência com golpismo Durante a entrevista, o ministro recordou episódios em que temeu graves tumultos institucionais nos quatro anos do governo Bolsonaro. “Tivemos momentos de muita tensão, como o desfile de tanques na Esplanada e manifestações que ameaçavam o tribunal”, contou. Ele classificou como “leniente” a conduta de setores militares diante dos acampamentos golpistas em frente a quartéis. “O que nós fizemos para permitir que isso acontecesse? E o que devemos fazer para evitar que se repita?”, questionou Gilmar ao lembrar sua visita ao prédio do Supremo após os ataques de janeiro de 2023. Para ele, ainda falta clareza na definição do papel das Forças Armadas e de policiais militares em funções públicas civis, e o Congresso tem sido omisso ao não avançar com propostas que delimitem esses pontos. Diferença entre as anistias de 1979 e 2023 Ao ser confrontado com o argumento de que uma nova anistia seria coerente com a de 1979, Mendes foi categórico ao refutar a comparação: “A de 79 fazia parte de um processo de reconciliação após um período de exceção. Agora estamos vivendo um outro momento — estávamos em plena democracia, num ambiente de absoluta normalidade, quando veio o ataque. Isto não faz qualquer sentido”. Por fim, o ministro reiterou a necessidade de se preservar o Estado Democrático de Direito e chamou atenção para o papel do Judiciário na contenção de impulsos autoritários. “É possível que se vá tanto em termos de impunidade que se coloque em risco todo um processo civilizatório”, alertou.

domingo, 18 de maio de 2025

PAPA CONVIDADO A COMPARECER A COP30

Novo papa condena economia que ‘explora recursos da Terra e marginaliza pobres’; Alckmin o convida à COP30 Leão 14 celebrou missa para 150 mil pessoas e 140 delegações na Basílica de São Pedro 18.maio.2025 às 10h26 Curitiba (PR) Redação Novo papa condena economia que ‘explora recursos da Terra e marginaliza pobres’; Alckmin o convida à COP30 O vice-presidente Geraldo Alckmin entrega ao papa Leão 14 convite para à COP30, que acontecerá em novembro, em Belém - Reprodução/Vatican News O novo papa, Leão 14, celebrou neste domingo a missa inaugural de seu papado condenando o modelo econômico que “explora os recursos da Terra” e “marginaliza os pobres”. Na ocasião, o papa recebeu das mãos do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) um convite para que compareça à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em novembro, em Belém. Alckmin foi o representante do Estado brasileiro na missa celebrada por Leão 14, na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Outras 140 delegações de países e organizações internacionais estiveram no evento, incluindo o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski. Cerca de 150 mil pessoas assistiram à cerimônia, que começou às 10h do horário local (5h no horário de Brasília). Leão cumpriu alguns rituais do início do papado, como o recebimento do Pálio, símbolo da posição do papa como pastor dos católicos, e do Anel do Pescador, com a imagem do apóstolo Pedro, usado para autenticar documentos do Vaticano. Depois, falou aos presentes pedindo paz e fraternidade. “Ainda vemos demasiada discórdia, feridas causadas pelo ódio, a violência, os preconceitos, o medo do diferente e um paradigma econômico que explora os recursos da Terra e marginaliza os mais pobres”, disse Leão 14. “Queremos ser, dentro desta massa, um pequeno fermento de unidade, comunhão e fraternidade. Queremos dizer ao mundo, com humildade e alegria: olhem para Cristo, aproximem-se dele”, acrescentou ele. O estadunidense naturalizado peruano disse que foi escolhido para substituir o papa Francisco, morto no último dia 21, “sem mérito, com temor e tremor”. Disse que não pretende ser “um líder solitário ou um chefe acima dos outros”. Editado por: Nicolau Soares

PRESO POLITICO POR 12 ANOS A PRESIDENTE DO URUGUAI

De preso político por 12 anos a presidente do Uruguai: veja a trajetória excepcional de Pepe Mujica Com flores, cárcere e mateadas, Mujica moldou a história uruguaia com ética, coragem e amor 18.maio.2025 às 10h10 Havana (Cuba) Gabriel Vera Lopes De preso político por 12 anos a presidente do Uruguai: veja a trajetória excepcional de Pepe Mujica (FILES) Former National Liberation Movement (MLN) guerrilla organization members (L) Jose Mujica, and Mauricio Rossencof(R) next to Adolfo Wassen Jr. are seen on the day of their liberation as political prisoners in Montevideo on March 14, 1985. Mujica is due to take office as Uruguayan President next March 1, marking the begining of a second term for the ruling left-wing Frente Amplio coalition. Mujica, an ex-guerrilla fighter and hero of the Latin American left, died on May 13, 2025 at the age of 89. The humble leader -- who once spent a dozen years behind bars for revolutionary activity -- lost his battle against cancer after announcing in January the disease had spread and he would stop treatment. (Photo by AGENCIA CAMARA TRES / AFP) / Uruguay OUT / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / AGENCIA CAMARA TRES " - NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS Filho de Demetrio Mujica Terra e Lucy Cordano Giorello, “Pepe” Mujica cresceu nos arredores de Montevidéu, em Paso de la Arena, em uma família de pequenos trabalhadores rurais. Sua mãe era horticultora e seu pai, pequeno agricultor que faleceu em 1940, quando Mujica tinha apenas seis anos de idade. Desde cedo, Mujica trabalhou vendendo flores para ajudar a mãe, hábito que, assim como o amor pela terra, o acompanhariam por toda a vida, até seus últimos dias. A necessidade de trabalhar o impediu de concluir os estudos e, muito jovem, começou a se envolver nos problemas do país e nas causas dos trabalhadores. Aos 14 anos, passou a acompanhar as mobilizações por melhores salários. Como herança familiar, no início da juventude, foi membro do Partido Nacional (PN), onde chegou a ocupar o cargo de secretário-geral da Juventude. No entanto, apesar da perspectiva de uma carreira promissora, deixou o partido para se engajar em movimentos de esquerda. Na metade da década de 1960, influenciado pela Revolução Cubana e por um contexto de lutas sociais em todo o continente, Pepe Mujica foi um dos fundadores do Movimiento de Liberación Nacional-Tupamaros (MLN-T), uma organização político-militar que se tornaria uma das mais relevantes da América Latina. O grupo executou o policial estadunidense conhecido nos círculos militares como “o mestre da tortura”, Dan Mitrione, que participou pessoalmente da preparação e do treinamento de grupos de extermínio dedicados ao sequestro e à eliminação de militantes políticos, sindicais e sociais durante a ditadura brasileira. Naquele período, ele viajou ao Uruguai como chefe do Escritório de Segurança Pública dos Estados Unidos, com o objetivo de assessorar o governo na criação dos tristemente célebres “esquadrões da morte”. Mujica foi baleado e preso em quatro ocasiões. Até que, em 1972 — junto com um grupo de militantes — foi capturado e submetido à tortura por quase 13 anos. No entanto, nem o terror mais abominável foi capaz de fazê-lo desistir. Pepe jamais abandonou seu compromisso político, nem sua pregação por uma vida que valha a pena ser vivida — desprovida da ambição de acumular riquezas. Considerado “o presidente mais humilde do mundo”, Mujica governou o Uruguai entre 2010 e 2015. Durante seu mandato, recusou-se a viver na residência oficial e continuou morando, ao lado de sua companheira Lucía Topolansky, em sua modesta chácara de 20 hectares, localizada em Rincón del Cerro, uma zona rural próxima à capital uruguaia. Além disso, doava 90% do seu salário para projetos sociais e outros 5% para o Movimento de Participação Popular (MPP). Constantemente questionado sobre seu estilo de vida simples, Mujica costumava dizer: “Não sou pobre, apenas ando leve”. “Se eu pudesse viver de novo, dedicaria minha vida ao meu povo”, afirmou Mujica em um comovente discurso dirigido à juventude, em 2023. A mais extraordinária fuga Ninguém os tinha visto. Ninguém os tinha ouvido. Naquela manhã, quando os guardas iniciaram a inspeção rotineira nas celas, eles simplesmente haviam desaparecido. Imediatamente, o som desesperado das sirenes se misturou aos gritos perplexos dos guardas. Durante todo aquele tempo, eles estiveram ali, bem debaixo dos narizes dos carcereiros, planejando e executando — com precisão de relógio — uma das fugas mais extraordinárias e numerosas que a história do continente já conheceu. Naquela segunda-feira, 6 de setembro de 1971, sem que ninguém percebesse, 106 prisioneiros políticos do Movimiento de Liberación Nacional-Tupamaros (MLN-T) — juntamente com cinco detentos comuns que colaboraram com eles — conseguiram escapar da prisão de Punta Carretas, uma das mais seguras do Uruguai. Cada detalhe havia sido meticulosamente planejado. Durante semanas, os Tupamaros construíram uma rede de passagens que ligava diferentes celas do segundo e terceiro andares — onde estavam os presos políticos — a uma cela no térreo. A partir dali, cavaram um túnel que levava até uma casa localizada na calçada do outro lado da rua da prisão. As ferramentas utilizadas eram fabricadas dentro da própria prisão. A terra e os entulhos removidos eram escondidos debaixo das camas ou disfarçados com pôsteres de clubes de futebol e modelos pendurados nas paredes. Em alguns casos, chegavam até a subornar guardas para evitar que revistassem as celas. Nas primeiras horas da manhã, enquanto os guardas descansavam, os 111 fugitivos escaparam, um a um, em direção a uma casa onde uma célula tupamara os aguardava. De lá, um comando da organização ficou encarregado de distribuir os militantes por diferentes pontos da cidade, onde eram recebidos em casas clandestinas. O plano de fuga foi concebido de dentro da própria prisão. Entre seus idealizadores estava o principal líder da organização, Raúl Sendic, acompanhado de outras figuras importantes como José “Pepe” Mujica, Eleuterio Fernández Huidobro, Jorge Zabalza e Jorge Amílcar Manera Lluberas — engenheiro civil responsável por calcular a rota do túnel com base em antigos esboços da prisão obtidos com um preso comum. A ação ocorreu simultaneamente a uma série de operações realizadas pelos Tupamaros em La Teja — um bairro histórico da classe trabalhadora, com forte tradição sindical e militante. Lá, o grupo montava barricadas e executava ações relâmpago com o objetivo de distrair a atenção das forças policiais. Naquela madrugada de 6 de setembro de 1971, “Pepe” Mujica viu, pela primeira vez, Lucía Topolansky — que viria a ser sua companheira para toda a vida. Ela integrava a equipe de militantes que operava do lado de fora, garantindo a viabilidade da fuga. Apenas dois meses antes, Lucía havia sido uma das organizadoras da Operação Estrela, na qual 38 mulheres presas políticas escaparam da prisão feminina de Cabildo. A notícia estampou as primeiras páginas dos jornais ao redor do mundo. A fuga espetacular tornou-se uma das ações de propaganda mais emblemáticas da luta armada urbana, em um contexto regional atravessado por movimentos revolucionários em diversos países do Cone Sul. A longa noite A primeira vez que sentiu o calor do sol no rosto, Mujica não conseguiu conter o choro. Durante anos, a ditadura civil-militar uruguaia o submeteu a todo tipo de tortura física e psicológica, chegando a mantê-lo preso em um buraco, em condições desumanas, sem sequer ver a luz do dia. Segundo seu próprio testemunho, durante esses anos, a luta mais difícil e desgastante foi contra a insanidade. As torturas constantes e o isolamento total lhe causaram graves distúrbios neurológicos e psiquiátricos. Naquela época, para manter algum contato — por mais tênue que fosse — com a realidade, ele caminhava de um lado para o outro nas minúsculas celas para onde era levado, contando os próprios passos. “Para nós, o sol foi aparecendo aos poucos”, diz ele em uma comovente entrevista ao semanário Brecha, concedida há 25 anos. “O homem não é ele mesmo; o homem é fruto das vicissitudes, das adversidades. Alguns de nós tiveram a sorte de a vida nos apertar, mas não nos derrubar. Ela nos deu licença para continuar vivendo e, até certo ponto, colher o mel que conseguimos extrair em meio à amargura”, acrescenta na mesma conversa, apesar das humilhações indescritíveis às quais foi submetido. Assim como a maioria dos líderes dos Tupamaros — juntamente com outras organizações de esquerda, como o Partido Comunista Uruguaio — Mujica foi novamente preso nos primeiros meses de 1972. Foi a quarta vez que ele foi detido, e essa seria a mais longa: ele permaneceria encarcerado por quase treze anos. Em meados de abril daquele ano, o governo de Juan María Bordaberry — pertencente ao setor ruralista do tradicional Partido Colorado — conseguiu que o Parlamento uruguaio declarasse o “Estado de Guerra Interna”, autorizando assim as Forças Armadas a atuarem como forças policiais em todo o país. A militarização da segurança interna veio acompanhada da suspensão das garantias constitucionais e do uso sistemático da tortura como método para obtenção de informações. Entre abril e setembro de 1972, vários dos principais líderes do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T) foram assassinados, enquanto outros nove — Raúl Sendic, José “Pepe” Mujica, Eleuterio Fernández Huidobro, Mauricio Rosencof, Adolfo Wasem, Jorge Manera, Julio Marenales, Jorge Zabalza e Henry Engler — foram sequestrados em operações militares violentas. Assim como centenas de outros presos políticos, nenhum deles foi submetido a julgamento. O então presidente Juan María Bordaberry, alegando que uma suposta “conspiração contra a pátria” estaria “infiltrada nas próprias instituições”, decidiu, em 27 de junho de 1973, em acordo com os militares, dissolver os poderes legislativos e suspender o regime constitucional, dando início ao golpe de Estado que governaria o país até 1985. Após o golpe, os nove presos políticos foram escolhidos pela ditadura como “reféns”. Em uma operação brutal, eles foram retirados de suas celas com as cabeças cobertas, encapuzados e algemados, sendo transferidos para diferentes quartéis militares ao redor do país. Assim começava uma longa e aterrorizante peregrinação por diversos centros de detenção. Divididos em grupos de três, foram mantidos em condições desumanas: trancados em masmorras minúsculas, submetidos a torturas físicas e psicológicas, sob vigilância constante e praticamente sem qualquer contato humano. Durante quase doze anos, viveram sob um regime de terror que buscava destruir sua saúde física e mental. Os anos mais terríveis duraram até 1980. Naquele ano, a ditadura convocou um plebiscito com o objetivo de aprovar uma nova Constituição que consolidaria ainda mais o poder das Forças Armadas. Apesar do controle da mídia e da repressão aos opositores, o “NÃO” à nova Constituição venceu, com 57,2% dos votos. Naquela noite, os prisioneiros foram brutalmente torturados pelos militares. No entanto, também teve início um longo processo de enfraquecimento da ditadura, que culminaria nas eleições gerais e na reabertura constitucional em 1985. Por meio de uma anistia, Mujica recuperou sua liberdade, juntamente com centenas de outros presos políticos. Na época de sua libertação, ele tinha quase 50 anos. A partir de então, Pepe voltaria a se reunir com Lucía Topolansky, com quem compartilharia o restante de sua vida até o momento de sua morte. As mateadas Suas atividades políticas recomeçaram quase imediatamente após a libertação da prisão. Mujica conta que sua primeira tarefa militante foi encontrar um lugar onde pudesse se reunir com seus companheiros para planejar os próximos passos. Apenas duas semanas depois de Julio María Sanguinetti assumir a presidência, os Tupamaros que haviam sido “reféns” da ditadura realizaram uma coletiva de imprensa histórica. Transmitido pelos canais de televisão, o grupo anunciou que voltava às ruas “em espírito de paz” para “atuar intensamente dentro da legalidade vigente”. Naquela ocasião, anunciaram que continuariam sua luta com base em três pilares: a reforma agrária, a nacionalização dos bancos e o não reconhecimento da dívida externa contraída pela ditadura. Uma nova e intensa etapa começava na vida de Pepe Mujica. Naqueles anos, ele se tornou um dos principais oradores nas “mateadas”, como eram chamadas as reuniões em espaços públicos, onde o MLN-T compartilhava o mate, conversava com os vizinhos e respondia a perguntas sobre seu passado militante, o período na prisão e sua visão sobre a situação política do país. Em uma entrevista à televisão espanhola em 1987, Mujica declarou: “Sem sermos reformistas, temos que apoiar soluções tipicamente reformistas, porque a coisa mais valiosa que este povo tem é a liberdade política”. Naqueles anos, as divergências políticas entre os membros do MLN-T também começaram a se tornar mais evidentes. Esse processo se intensificou com a morte de seu líder histórico, Raúl Sendic, em 1989. Nesse mesmo ano, Mujica foi uma das principais forças por trás da criação do Movimento de Participação Popular (MPP). Ele conseguiu integrá-lo à Frente Ampla — uma coalizão de partidos de esquerda e centro — apesar da resistência do Partido Comunista. Com a entrada do MPP, a Frente Ampla passou a experimentar um expressivo crescimento eleitoral, que, anos depois, levaria a coalizão a governar o país. Esse também foi um período em que Mujica passou a adotar posições mais moderadas, vistas por alguns setores como um afastamento das propostas originais do movimento. O triunfo eleitoral da Frente Ampla A vitória da Frente Ampla (FA) nas eleições gerais de 2004 foi marco histórico para o país. Pela primeira vez, uma coalizão de esquerda chegou ao governo nacional, encerrando décadas de alternância entre os partidos tradicionais, Colorado e Nacional. Naquele ano, Tabaré Vázquez, membro do Partido Socialista, venceu as eleições já no primeiro turno. A coalizão de esquerda havia se consolidado durante sua gestão à frente da Prefeitura de Montevidéu. Após vários anos no Legislativo, Mujica foi nomeado Ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca. No entanto, as tensões não demoraram a surgir. Apenas um ano após assumir o cargo, um grupo de trabalhadores rurais de Bella Unión ocupou 36 hectares de terra que estavam abandonados havia onze anos. A ocupação reacendeu velhos fantasmas. Bella Unión não era um lugar qualquer: foi lá que, na década de 1960, surgiu o movimento da cana-de-açúcar liderado por Raúl Sendic, em torno do qual seria fundado o MLN-T. O governo acusou o movimento de ser “ultraesquerdista” e de “colocar pedras no caminho do governo”. Sua presidência A pessoa encarregada de colocar a faixa presidencial em Mujica, em 2010, foi Lucía Topolansky. O mérito foi totalmente dela, pois havia sido a legisladora mais votada do país. Ambos haviam sido torturados durante a ditadura, e foi juntos que não só conseguiram superar as adversidades, mas também alcançar uma centralidade política sem precedentes, fazendo com que boa parte do mundo passasse a conhecer esse pequeno país de apenas 3,5 milhões de habitantes. “O amor tem idades. Quando você é jovem, ele é uma fogueira. Quando você é velho, é um hábito doce. Se estou vivo, é porque ela está”, disse Mujica em uma entrevista, dois anos antes de sua morte. Apesar das desconfianças de setores mais moderados da coalizão, Mujica conseguiu vencer as eleições internas do partido em 2009, com amplo apoio. Isso fez com que o MPP se tornasse o setor mais votado da coalizão. Nas eleições gerais, Mujica derrotou o candidato do Partido Nacional, Luis Alberto Lacalle Herrera. Desde que assumiu o cargo, se tornou um dos líderes mais carismáticos do mundo, reconhecido internacionalmente por seu estilo de vida austero e por seu discurso ético, especialmente contra o consumismo. Sua presidência foi marcada principalmente pela expansão dos direitos. O aborto foi descriminalizado (2012) e a lei do casamento igualitário foi aprovada (2013), consolidando o perfil secular e a cultura progressista do país. Durante seu mandato, o país vivenciou o maior período de aumento do salário mínimo para os trabalhadores, o que contribuiu para a redução da pobreza, além do crescimento do PIB. Mujica encerrou seu mandato como um dos presidentes com a imagem mais positiva do mundo, alcançando uma aprovação de 70%. Além disso, ele foi fundamental para o retorno da Frente Ampla ao governo nas eleições de 2024. Mujica foi uma das principais forças motrizes por trás da campanha “A Frente Ampla ouve você”, na qual líderes e ativistas viajaram por todo o país com o objetivo de reconstruir laços e elaborar um programa coletivo para o próximo governo. Em uma coletiva de imprensa em abril de 2024, o líder histórico da Frente Ampla anunciou que estava com câncer. Naquele mesmo dia, dirigindo-se aos jovens, Mujica declarou: “Aos jovens deste país, quero dizer que a vida é bela, mas ela se desgasta e vai embora (…) O cerne da vida é recomeçar toda vez que se cair.” Em janeiro passado, ele anunciou que o câncer havia se espalhado por todo o seu corpo. Em meio à tristeza da despedida, afirmou que morreria em sua amada chácara e que desejava ser enterrado sob uma árvore, onde descansa sua querida Manuela, a cachorrinha que acompanhou o amor de Pepe e Lucía. “A maior conquista é que, quando eu partir, haverá um grande número de pessoas que continuarão militando e sonhando com um mundo melhor”, costumava dizer em suas últimas entrevistas. O mundo se despede de um grande. Editado por: Rodrigo Durão Coelho

terça-feira, 15 de abril de 2025

Essa proposta é elitista, cruel e inaceitável

Economistas pela Democracia repudiam Armínio Fraga: “elitista e cruel” Fraga defendeu o congelamento dos aumentos reais do salário mínimo por seis anos e foi amplamente rechaçado 15 de abril de 2025, 16:06 h 13 Partilhas whatsapp-white sharing button 5twitter-white sharing button 2facebook-white sharing button 6email-white sharing buttoncopy-white sharing button Armínio Fraga Armínio Fraga (Foto: Horst Baümle/Divulgação) Bluesky LogoBluesky Bluesky LogoThreads Apoie o 247Siga-nos no Google News Leonardo Sobreira avatar Conteúdo postado por: Leonardo Sobreira 247 - A Associação Brasileira dos Economistas pela Democracia (ABED) repudiou, em nota divulgada nesta terça-feira (15), declarações recentes do economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e um dos homens mais ricos do país, que defendeu o congelamento dos reajustes reais do salário mínimo por um período de seis anos. Durante a Brazil Conference, realizada no último sábado (12), nas universidades Harvard e MIT, nos Estados Unidos, Fraga lançou a proposta sob o argumento de que o sistema previdenciário brasileiro estaria em situação "explosiva". Play Video A ABED repudiou "de forma contundente" a fala e qualificou a proposta de elitista: "Essa proposta é elitista, cruel e inaceitável. Mais uma vez, setores das elites financeiras brasileiras tentam jogar o peso do ajuste fiscal nas costas dos trabalhadores, poupando a si próprios de qualquer responsabilidade. É a velha lógica de sempre: o povo paga a conta, enquanto os rentistas continuam sangrando o país com juros escorchantes e lucros recordes". "A proposta é ainda mais grave por vir de quem sempre esteve ao lado dos que desmontaram as políticas sociais construídas com tanto esforço", acrescenta a nota, destacando ainda a importância do aumento real do salário mínimo para a melhoria da vida de milhões de brasileiros. Leia a íntegra da nota - A Associação Brasileira dos Economistas pela Democracia (ABED) repudia de forma contundente a fala do economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, durante a Brazil Conference, realizada em 12 de abril de 2025 nas universidades Harvard e MIT, nos Estados Unidos. Fraga defendeu o congelamento dos aumentos reais do salário mínimo por seis anos, sob o argumento de que o sistema previdenciário brasileiro estaria em situação "explosiva". Essa proposta é elitista, cruel e inaceitável. Mais uma vez, setores das elites financeiras brasileiras tentam jogar o peso do ajuste fiscal nas costas dos trabalhadores, poupando a si próprios de qualquer responsabilidade. É a velha lógica de sempre: o povo paga a conta, enquanto os rentistas continuam sangrando o país com juros escorchantes e lucros recordes. Fraga e seus pares evitam tocar no verdadeiro problema fiscal brasileiro: o sistema de juros altos, a política monetária que favorece banqueiros, e os privilégios tributários de grandes fortunas e corporações. Em vez de enfrentar esses interesses, preferem mirar o salário mínimo – o principal instrumento de distribuição de renda e combate à desigualdade no Brasil. A proposta é ainda mais grave por vir de quem sempre esteve ao lado dos que desmontaram as políticas sociais construídas com tanto esforço. Basta lembrar que após o golpe parlamentar de 2016, com o apoio de setores do mercado financeiro, foi implantado o programa "Uma Ponte para o Futuro", do governo Temer, que interrompeu os aumentos reais do salário mínimo e aprofundou o desmonte do Estado. No governo Bolsonaro, o congelamento continuou, com perdas reais para quem vive do trabalho. O aumento real do salário mínimo foi decisivo para a melhoria da vida de milhões de brasileiros, ajudando a reduzir desigualdades sociais e regionais, além de dinamizar a economia nacional. Atacar essa política é atacar diretamente a população mais pobre e trabalhadora do Brasil. É importante lembrar que durante o período em que os aumentos reais do salário mínimo foram interrompidos, entre o golpe parlamentar de 2016 e o final do governo Bolsonaro, a situação fiscal não melhorou — ao contrário, ela se agravou. O congelamento dos salários não trouxe o equilíbrio prometido e ainda aprofundou a desigualdade, desvalorizou o trabalho e estrangulou a renda de milhões de brasileiros. Rejeitamos com firmeza qualquer proposta que retire direitos e agrave a desigualdade. E reafirmamos: quem deve pagar pela crise são aqueles que mais lucram com ela. As elites financeiras precisam, finalmente, assumir sua parte no ajuste fiscal — e não seguir fugindo de suas responsabilidades históricas. Associação Brasileira dos Economistas pela Democracia (ABED)

terça-feira, 8 de abril de 2025

O Brasil é dos brasileiros

O Brasil é dos brasileiros Em 2026, o povo brasileiro deverá dizer um sonoro: MAGA é o caramba. Porque o Brasil é dos brasileiros e brasileiras 08 de abril de 2025, 05:51 h 7 Partilhas whatsapp-white sharing button 5twitter-white sharing buttonfacebook-white sharing button 2email-white sharing buttoncopy-white sharing button O Brasil é dos Brasileiros é a ideia força da campanha publicitária do governo Lula O Brasil é dos Brasileiros é a ideia força da campanha publicitária do governo Lula (Foto: Redes sociais, divulgação ) Bluesky LogoBluesky Bluesky LogoThreads Apoie o 247Siga-nos no Google News Por onde andarão os brasileiros com bonés vermelhos na cabeça com a inscrição MAGA – Make America Great Again? Estariam treinando seu inglês para pedir pipocas ou sorvetes na Disneylândia? Ou ensaiando o hino norte-americano para cantar enquanto batem continência para a bandeira do país do Tio Sam? A verdade é que, quando a conta do tarifaço de Trump chegar aos lares brasileiros, a história lhes cobrará. Vem do país exemplo de capitalismo para eles, da pena do seu líder quase espiritual, do seu farol da liberdade, da sua infantaria anticomunista, as medidas mais protecionistas, mais antiliberais e contra o livre-comércio que nem mesmo a China comandada pelo Partido Comunista seria capaz de praticar. A queda nas bolsas de valores registrada nesta segunda-feira foi um verdadeiro aperitivo perto do desarranjo na economia mundial que esse arroubo de imperador de Trump pode causar — caso ele não recue, como aliás é do seu costume. A incerteza colocada por essas medidas nas planilhas e telas dos investidores não especulativos vai reduzir a atividade econômica planetária. Isso vai gerar desemprego. Inclusive nos Estados Unidos. Crise de abastecimento, com consequentes aumentos de preços e pressão inflacionária, vem a reboque. Interessante seria ver alguns personagens da política brasileira fazendo vídeos para suas redes, mostrando o quanto subiram nos Estados Unidos os preços do café, dos automóveis — ou melhor, dos ovos — a partir do tarifaço de seu guru, Donald Trump. Mas a verdade é que a política protecionista de Trump vai afetar — e muito — o Brasil. E não se trata apenas das sobretarifas. A nossa economia é bastante vulnerável aos acontecimentos no cenário mundial, e uma bagunça lá fora nos atingirá com força. Contudo, ee o cálculo que esses apoiadores de Trump em território brasileiro estão fazendo é que eleitoralmente uma crise pode lhes ser favorável, penso que eles têm tudo para dar com os donkeys in the water. Trump está dando ao governo Lula o inimigo externo a ser enfrentado, assim como está mostrando a desgraça que a insensatez, os delírios e a irresponsabilidade dessa gente pode causar. Em 2026, o povo brasileiro deverá dizer um sonoro: MAGA é o caramba. Porque o Brasil é dos brasileiros e brasileiras.

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Cidade em que Bolsonaro cresceu, Eldorado elege o primeiro prefeito quilombola de SP

Cidade em que Bolsonaro cresceu, Eldorado elege o primeiro prefeito quilombola de SP Vereador Noel Castelo foi eleito neste domingo (6) para comandar município a 243 quilômetros da capital paulista 07.abr.2025 às 12h34 São Paulo (SP) Redação Cidade em que Bolsonaro cresceu, Eldorado elege o primeiro prefeito quilombola de SP Noel Castelo, o primeiro prefeito quilombola do estado de SP - Reprodução/Facebook/Prefeito Noel Castelo A cidade de Eldorado, no Vale do Ribeira, onde Jair Bolsonaro (PL) passou parte da infância e adolescência, elegeu o primeiro prefeito quilombola do estado de São Paulo. O vereador Noel Castelo (Solidariedade) foi eleito neste domingo (6) para comandar o município que fica a 243 quilômetros da capital paulista. Ele foi eleito com 41,87% dos votos válidos, à frente de Dr. Galindo (PSD), apoiado por setores mais conservadores, que obteve 37,85% dos votos válidos, e Dra. Débora (PT), com 20,27% . A eleição foi convocada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após o então prefeito Elói Fouquet (PSDB) ter o seu mandato cassado após uma condenação por improbidade administrativa. Em seu histórico, Neol Castelo já criticou as falas preconceituosas do ex-presidente sobre descendentes de escravizados que moram na região. Em 2017, Bolsonaro disse que os quilombolas “não fazem absolutamente nada”. “Eu fui em Eldorado paulista. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Nem para procriador ele serve mais”, afirmou em palestra no clube Hebraica do Rio de Janeiro. Um ano depois, enquanto líder da comunidade quilombola Abobral, Castelo questionou a fala de Bolsonaro. “Não existe nada disso que ele falou. Se ele viu alguém à toa, pode ser que ele tenha ido em algum fim de semana. E aí as pessoas descansam mesmo, é um direito”, afirmou Castelo em entrevista à Folha de S. Paulo. Durante a sua campanha, Noel Castelo recebeu o apoio nas redes sociais de apoiadores como Vilmar Kalunga, o primeiro prefeito quilombola do Brasil, em Cavalcante (GO). O agora também prefeito compartilhou vídeos de apoio de políticos da coligação formada por Solidariedade e União Brasil. Um desses materiais foi gravado pelo deputado federal Alexandre Leite da Silva (UB-SP), filho do ex-vereador de São Paulo, Milton Leite. Editado por: Martina Medina

São Paulo é sede de um dos maiores encontros do campo progressista mundial

Dilemas da Humanidade: São Paulo é sede de um dos maiores encontros do campo progressista mundial esta semana Mais de 70 intelectuais, líderes políticos e de movimentos sociais estarão reunidos entre os dia 7 e 10 de abril Play 00:54 Download 02:05 07.abr.2025 às 06h16 São Paulo (SP) Redação Dilemas da Humanidade: São Paulo é sede de um dos maiores encontros do campo progressista mundial esta semana Rafael Stedile São Paulo (SP) sedia nesta semana, entre os dias 7 e 10 de abril, um dos maiores encontros do campo progressista mundial: a conferência Dilemas da Humanidade: Perspectivas para Transformação Social para discutir saídas para a atual crise do capitalismo. Mais de 70 intelectuais, líderes políticos e de movimentos sociais de todo o mundo estarão reunidos no evento que acontecerá na PUC-SP e no Sesc Pompeia e será aberta ao público. A conferência foi organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social e a Assembleia Internacional dos Povos (AIP). Em sua quarta edição, o objetivo do encontro é discutir e propor soluções econômicas e sociais concretas para as diversas crises causadas pelo capitalismo e pelo neoliberalismo em todo o mundo, além de atuar no combate à fome, às desigualdades sociais e à crise ambiental. O evento retorna ao Brasil este ano depois de uma edição realizada em Joanesburgo, na África do Sul, em outubro de 2023, que reafirmou a exigência de um projeto popular e alternativo, construído pelos povos em luta para a superação do capitalismo e do imperialismo. As duas primeiras edições, organizadas pelo MST, aconteceram no Rio de Janeiro, em 2004, e na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema, interior paulista, em 2015. A conferência em Guararema originou a Assembleia Internacional dos Povos e outros instrumentos de articulação política internacionalista. A cerimônia de abertura do evento, que contará com o ministro de Economia do Brasil, Fernando Haddad, será aberta ao público e acontecerá na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), no Campus Perdizes, a partir das 18h. Além de Haddad, diversas outras lideranças e intelectuais, como Vijay Prashad (Índia), diretor do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, também estarão presentes. De 8 a 10 de abril, o palco dos debates será o Sesc Pompéia. Entre os participantes, estão confirmados alguns dos principais nomes do debate econômico e figuras políticas, como a economista Josefina Morales do México, o russo Yaroslav Lissovolik (assessor da Rússia no FMI e fundador do BRICS+ Analytics), Marcio Pochmann (Diretor do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), João Pedro Stedile (membro fundador do MST), Paulo Nogueira Batista Jr. (ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento), Pedro Rossi (vice-Presidente do Fundo Global para uma Nova Economia), o sociólogo argentino Cláudio Katz, a ministra da Gestão e Inovação Esther Dweck, entre outros. Informações gerais Abertura do evento Data: 7 de abril Local: auditório 239 da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), na R. Ministro Godói, 969, às 19h. Conferência Dilemas da Humanidade Data: De 8 a 10 de abril de 2025, das 10h30 às 19h. Local: Teatro do Sesc Pompeia Rua Clélia, 93 – Água Branca – São Paulo/SP Editado por: Leandro Melito