Embora
muitos já tenham assistido, a esmagadora maioria dos brasileiros infelizmente
não viu, o que explica a ignorância e a perenidade de tantas mentiras sobre
aquele período histórico, que, meio século depois, a grande mídia brasileira
mantém vivas
Eduardo Guimarães, em seu sítio
O que
este país mais precisa, neste momento histórico, é de doses cavalares de…
Memória. Só revendo o passado é que poderemos avaliar o presente e projetar o
futuro. Para tanto, porém, teremos que retroceder no tempo. Voltaremos, neste
texto, a cerca de meio século.
Em um
momento em que só se fala em “mensalões” – petistas, tucanos etc. –, um
documento histórico nos propiciará enxergar o que até hoje permanece nas
sombras: o maior mensalão de todos os tempos, bem como coincidências
impressionantes entre o ontem e o hoje, as quais continuam a nos roubar a
tranqüilidade quanto à democracia que, a duras penas, ainda pelejamos para
construir no
O
documentário “O Dia que Durou 21 anos” (2011) é uma produção da TV Brasil com a
Pequi Filmes, com direção de Camilo Tavares, filho de uma das vítimas da
ditadura. O material apresenta os bastidores da participação do governo dos
Estados Unidos no golpe militar de 1964.
Sim,
muitos já assistiram, mas a esmagadora maioria dos brasileiros infelizmente não
viu, o que explica a ignorância e a perenidade de tantas mentiras sobre aquele
período histórico, que, meio século depois, a grande mídia brasileira mantém
vivas.
Esse
material imprescindível, que deveria figurar em todos os currículos escolares
dos quatro cantos do país, mostra como e por que os Estados Unidos decidiram
interferir na política interna do Brasil.
Documentos
inéditos e oficiais, amparados em depoimentos de acadêmicos norte-americanos e
brasileiros, revelam como, sob o pretexto do avanço comunista em Cuba, os
Estados Unidos vieram ao Brasil e compraram, literalmente, políticos, governos
estaduais e, acima de tudo, meios de comunicação, que enriqueceram graças à
intervenção americana.
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Uma frase
dos golpistas manipulados pelo governo norte-americano abre o documentário:
“Aqueles que não amam a revolução, ao menos devem temê-la”.
Era a
senha para o terror que sobreviria por mais de duas décadas, durante as quais
verdadeiros facínoras, travestidos de militares, roubaram a nação ao custo de
seqüestros, torturas e assassinatos.
Uma rica
coleção de documentos oficiais e confidenciais norte-americanos, que vazaram há
poucos anos, comprovam cada letra do parágrafo anterior, narrando, minuto a
minuto, a estratégia ianque desde pouco antes do golpe militar de 1964 até o
dia 2 de abril daquele ano.
O
documentário não trata do desenrolar da ditadura, mas de como os Estados
Unidos, através do seu então embaixador no país, Lincoln Gordon, ao custo de
incontáveis milhões de dólares compraram consciências e colocaram como seus
empregados todos os atores do golpismo que seqüestrou e manteve cativo um país
inteiro durante mais de duas décadas.
O Brasil,
então uma potência emergente, a maior da América Latina, entregava aos ianques
o sangue e o suor de seu povo. Homens como Jango Goulart e Leonel Brizola,
porém, ameaçavam os “interesses” da potência estrangeira. E o que era “pior”:
eram apoiados pelo povo.
Para
eliminar a ameaça “comunista” aos seus “interesses”, sob a crença insana de que
a América Latina lhes pertencia os EUA fizeram de seu embaixador no país um
agente secreto, alguém que se tornou um dos mais relevantes personagens da
história brasileira.
Gordon
chegou ao Brasil ainda no governo Jânio Quadros, que renunciaria e deixaria o
vice-presidente, Jango Goulart, em seu lugar. O objetivo da nomeação desse
“diplomata” fluente em português era, escancaradamente, o de transformar a
embaixada norte-americana em um mero departamento da CIA.
Gordon
abraçou a causa com ardor. E foi através de seu empenho, das idiossincrasias de
um único homem, que a maior potência militar e econômica daquela época
transformou em um inferno as vidas de dezenas de milhões de brasileiros.
Para
seduzir a elite branca, dona de imensidões de terra, de indústrias e,
sobretudo, de jornais, rádios e televisões, as idéias de Jango e Brizola sobre
reforma agrária cairiam como uma luva.
Os
ianques pouco se importavam com os interesses econômicos dessa elite, mas tais
interesses lhes seriam úteis para evitar que uma nação do porte do Brasil se
tornasse “Não uma Cuba”, como diziam, mas “Uma China”, dada a já imensa
população nacional.
O que
mais impressiona em “O Dia que Durou 21 Anos” é o depoimento de Robert Bentley,
então assistente de Gordon. Grande parte das afirmações que você acaba de ler
foram confirmadas e até relatadas por esse homem.
Se você
leu, nos últimos anos – talvez em jornais como Estadão ou Folha ou em revistas
como a Veja –, que o governo Lula teria inaugurado uma “república sindicalista”
no Brasil, saiba que a expressão nasceu nos momentos que antecederam o golpe de
1964.
Eis a primeira das muitas
coincidências que sobrevirão.
Em
documentos oficiais do governo norte-americano de então, é dito,
explicitamente, que o que deveria desencadear o golpe não seria o interesse dos
brasileiros, mas o dos Estados Unidos – ou seja: o golpe foi dado por
brasileiros com a finalidade de satisfazer outro país.
O
presidente norte-americano era John Fitzgerald Kennedy. Esse que alguns até
hoje consideram herói cometeu crimes inomináveis contra nosso país de forma a
roubá-lo, nem que, para isso, milhões de brasileiros tivessem que pagar o
preço. Para tanto, fez com que a agência de inteligência ianque, a CIA,
começasse a expandir suas ações no país, começando por São Paulo.
Empresas
norte-americanas concessionárias de serviços como energia ou telefonia tinham
suas concessões vencendo em um quadro em que não tinham cumprido as exigências
do Brasil para que se instalassem aqui. Dependia do governo brasileiro,
portanto, renová-las ou não. Era nosso direito. Mas os norte-americanos só
aceitariam uma decisão…
Com
efeito, o combate midiático ao tamanho do Estado que se vê ainda hoje começou
muito antes. Quando você lê num desses veículos supracitados o inconformismo de
editorialistas com essa questão, na verdade está dando uma mirada no passado.
As
televisões norte-americanas, então, apresentavam longos programas sobre o risco
de o Brasil se insurgir contra seus interesses. E avisavam: “Para onde o Brasil
for a América Latina irá junto”.
Abertamente,
portanto, Kennedy falava à sua nação que seu governo “não aceitaria” uma
decisão eleitoral do povo brasileiro que contrariasse seus interesses. E
ameaçava: “Temos recursos, habilidade e força para proteger nossos interesses”.
Os Estados Unidos, porém, não
precisariam de tanto. Bastaria usarem a carteira.
Primeiro,
os norte-americanos tentaram comprar o povo brasileiro – e os de outros países
da América Latina – despejando na região quantidades imensuráveis de dinheiro
através de um programa que intitularam “Aliança para o Progresso”.
Segundo
Bentley declarou em “O Dia que Durou 21 Anos”, eram gastos em Educação,
agricultura, infra-estrutura: “Fale em um setor e ali estava o dinheiro da
Aliança”, disse ele.
Não foi
suficiente. O dinheiro norte-americano não comprava nem o governo João Goulart
nem o povo, que continuava apoiando aquele governo. Assim, sob recomendação de
Gordon, os Estados Unidos decidiram que era preciso “organizar as forças
militares e políticas contra o governo”.
Kennedy,
então, passou a literalmente comprar os opositores de Goulart no Congresso
brasileiro, em governos estaduais e, sobretudo, na imprensa. Veículos como o
jornal o Estado de São Paulo e O Globo passaram a ser receptáculos de
quantidades pornográficas de dólares desembolsados pelos Estados Unidos.
Os
beneficiários da dinheirama ianque, em contrapartida, tinham que organizar uma
campanha de “enfraquecimento” e de “desestabilização” do governo federal. Para
esse fim, a arma mais importante foi a… Imprensa.
Para que
os recursos chegassem aos destinatários, uma trama criminosa foi engendrada. O
mensalão ianque, que corromperia a imprensa, parlamentares e governadores de Estado
como Carlos Lacerda, chamava-se Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais
(IPES). Escritórios dessa agência do golpe foram abertos em São Paulo, no Rio
de Janeiro e em Porto Alegre.
A
imprensa, subsidiada pelo IPES, passou a fazer campanha anticomunista relatando
os “horrores” da União Soviética, de Cuba etc. O empenho anticomunista domou
Estadão, Globo e Folha, primeiro, através do bolso.
Esses
veículos passaram a verter, dia após dia, acusações e críticas de “descalabro
administrativo” e de “corrupção” contra o governo brasileiro. Não passava um
único dia sem que torrentes de matérias nesses veículos, entre outros, fossem
despejadas sobre o povo.
Informações
falsas ou manipuladas eram plantadas na mídia, que, como hoje, pouco admitia
uma mísera opinião divergente ou dava destaque a desmentidos. E, se dava, era
sempre em proporção absurdamente desigual. Sem falar que muitos assuntos eram
simplesmente vetados.
A grande
mídia de então inundava tudo que podia com propaganda contra o governo.
Cinemas, jornais, rádios, novelas. Tudo. Não havia como escapar de coberturas
como as que o Jornal Nacional fez diariamente contra o governo Lula e continua
fazendo contra o governo Dilma.
Tudo
muito bem pago por dinheiro subtraído ilegalmente do erário norte-americano e
repassado, mensalmente, aos escritórios do IPES, que, por sua vez, repassavam,
além de a meios de comunicação, também a parlamentares, que passavam a votar no
Congresso como queria o presidente… Dos Estados Unidos.
Qualquer
semelhança com o que se passa hoje não é mera coincidência. Se você acredita em
mim, pode parar por aqui. Do contrário, assista, abaixo, a íntegra do
documentário “O Dia que Durou 21 Anos”.
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