O ataque a Lula é uma ofensiva contra a esquerda brasileira e, em especial, a classe trabalhadora.A possibilidade do retorno do ex-presidente ensejou reações do grande capital e os partidos de direita, bem como aos seus subordinados na mídia, no aparelho estatal e na Justiça.
Muitas são as críticas possíveis a diretriz estratégica conduzida pelo lulismo nos últimos doze anos: a ausência de reformas estruturais, a manutenção dos pressupostos macroeconômicos dos governos tucanos, entre outros apontamentos possíveis e necessários.
Porém, somente um observador insincero pode afirmar que o presidente operário utilizou das prerrogativas do cargo para se locupletar. Em seus mandatos, pela primeira vez na história, foram criados os mecanismos reconhecidos internacionais para combater a corrupção.
O instrumento da delação premiada, a autonomia operacional da Polícia Federal e a indicação do Procurador-Geral por via direta pelos promotores foram condições criadas que ensejaram, por exemplo, a Operação Lava Jato e a Zelotes.
Fatalmente, como parte do processo de criminalização da esquerda, esses mecanismos são instrumentalizados para derrogar as prerrogativas individuais e criminalizar a política.
Esse antagonismo espúrio, motivado pela sanha de alçar ao governo um programa que favoreça ainda mais a superexploração da classe trabalhadora, conduzirá a consequências imprevistas.
É nós contra eles.
Não há possibilidade de mediação nessas condições. Quando os princípios normativos formais, inseridos no sistema democrático para garantir sua legitimidade, são abandonados ao gosto do interesse econômico e político, sobra aos prejudicados um duro enfrentamento aos ataques.A eventual prisão de Lula, despida de legalidade, ensejaria um quadro institucional caótico – de consequências proporcionais ao impeachment do governo democraticamente eleito.
O encarceramento do operário que chegou lá seria, de fato, uma hecatombe a classe trabalhadora, mas as consequências funestas também alcançariam as elites dominantes.
A direita brasileira parece querer imitar a Venezuela em sua cruenta delinquência, aqui sob o manto da institucionalidade.
Se insistir, padecerá denso período de intranquilidade.
JOÃO MARCELO
Graduando em Sociologia e membro do Conselho Universitário da Universidade de Brasília
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