Ciro, Marina, Alckmin e Meirelles e a hora da verdade
Claudio Guedes (*) analisa o horizonte eleitoral brasileiro e tenta desvendar os potenciais políticos dos candidatos Ciro Gomes, Marina Silva, Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles.
De Meirelles nunca foi nenhum. Um quase banqueiro, na legenda do desgastado MDB e tendo que, em tese, defender o governo – rejeitado por quase 90% dos brasileiros – do qual foi super-ministro da Fazenda, poderia ir para onde? Vai lutar desesperadamente para atingir os 5%.
Alckmin é o retrato, em cores desbotadas, de um PSDB que nos últimos anos foi um simulacro de um partido social-democrata. Pouco, quase nenhum, compromisso com o social e democrata só na medida da sua própria conveniência. O PSDB apostou uma parte das fichas na farsa do impeachment e outras tantas ao dar suporte e participar ativamente do governo Michel Temer. Vai lutar desesperadamente para atingir dois dígitos e não creio que consiga. A hipocrisia tucana hoje engana apenas uns poucos.
Se existe vácuo político, Marina é a sua pura expressão. Ausência de projeto, um discurso enjoativo e uma postura de ovelha desgarrada, afogada na solidão de sofismas incompreensíveis. Vai definhar e, com um pouco de sorte, ficará na casa dos 5%. Alguns nela votarão por pena. Pena de uma alma bem intencionada que vaga no universo da não-política.
Ciro, um político preparado e combatente. Um tanto vaidoso, como todo filho de coronel do Nordeste que, além de ter nascido no seio do poder, é também muito inteligente. Seus rompantes e sua personalidade individualista, pouco agregadora, sempre acabam por criar barreiras à possibilidade de tecer alianças em torno de um projeto que o tenha no vértice. Acho que 15% é seu teto máximo, mas é provável que acabe com apenas um dígito no percentual de votos.
Todos os quatro agora, nos últimos 21 dias de campanha, apontarão suas baterias ora contra Fernando Haddad, ora contra Jair Bolsonaro.
Pouco adiantará. A polarização da eleição foi desenhada pelos fatos & circunstâncias da política nacional dos últimos quatro anos, que foram:
a) a derrota do projeto liberal na eleição de 2014;
b) a farsa do impeachment;c) o fracasso da aliança Tucanos & Temer e suas propostas de reformas antipopulares;
d) e a reorganização do PT que, em torno de Lula mais uma vez, se superou e é o único partido que hoje possui um projeto para a nação. Um projeto de desenvolvimento com compromisso com o social e de respeito à democracia com a inclusão de direitos às minorias.
Jair Bolsonaro é o rebotalho do anti-petismo. É o que sobrou. Um despreparado, truculento, incompetente, misógino e preconceituoso. Um homem sem qualidades. Representará de forma adequada a fúria antipetista construída de forma artificial pelos derrotados de 2014, com o apoio integral da mídia conservadora e elitista hegemônica no país. Bolsonaro é a síntese perfeita e acabada da classe média-alta que um dia vestiu a camisa verde e amarela da corrupta CBF para bradar contra políticos e contra a própria política.
O confronto de 2018 se dará entre um projeto que, longe da perfeição, pelo menos possui coerência, compromissos com o social e com a democracia e representantes educados, inteligentes e jovens – Fernando Haddad e Manuela D’Ávila – e a ausência de projeto, de qualquer projeto, apenas uma raiva antipetista e um candidato sem qualquer qualidade.
Esse é o desenho do jogo que definirá o futuro ou o não-futuro do país chamado Brasil em outubro próximo.
(*) Claudio Guedes é físico e empresário nascido em Salvador-BA.
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