terça-feira, 16 de dezembro de 2025
PT busca ampliar presença no território com núcleos de base
PT busca ampliar presença no território com núcleos de base e concentra esforços para vitória no Congresso
Documento apresenta ideias do partido de colocar protagonismo no Estado e propõe reformas estruturais
16.dez.2025 - 05:00
Brasília (DF)
Lorenzo Santiago
PT fez 45 anos no começo de 2025 e vai organizar 8º Congresso Nacional em abril do ano que vem
Reestruturar um partido do tamanho do PT não é fácil. A sigla tem hoje 2,9 milhões de filiados e uma estrutura consolidada, mas que, para a direção nacional, precisa de oxigenação e um novo impulso. Parte fundamental dessa reformulação foi apresentada em um documento interno no dia 7 de dezembro e será discutida no 8º Congresso Nacional que será realizado em abril.
O foco é claro: ampliar cada vez mais a capilaridade do partido. Hoje, o PT tem 4.865 dirigentes de diretórios municipais e estaduais, mas a meta é conseguir ter uma participação ainda maior, especialmente nos bairros e municípios. A ideia do Congresso é construir uma tática política para que o partido esteja no território. Para isso, é preciso aumentar os núcleos de base, estruturas de pelo menos nove filiados organizados pela geografia, trabalho, movimento social ou estudantil, ou área de interesse.
Essa presença no território foi fundamental para as vitórias eleitorais em países vizinhos. No Uruguai, a Frente Ampla formou os chamados comitês de base, que garantiram não só a eleição presidencial, como a maioria nas duas casas do Legislativo, algo que hoje está no centro da estratégia do PT para 2026. O instrumento é uma forma que os partidos de esquerda do Uruguai construíram para manter um contato permanente com todos os bairros do país, recebendo demandas e conhecendo o território com profundidade.
Outro exemplo importante da região é o México. O Movimento Regeneração Nacional (Morena) construiu a partir de 2015 um comitê em cada seção eleitoral. Isso instrumentalizou os militantes, aproximou a legenda dos eleitores e conseguiu conquistar duas vitórias presidenciais seguidas, além de formar maioria no Parlamento. Em 2018, o grupo se orgulhava de ter avançado para 100% do território nacional.
Esse é o tipo de movimento que o PT busca fazer no próximo ciclo eleitoral. O presidente da sigla, Edinho Silva, afirma que a meta principal é o público a ser “disputado”, que é o jovem da periferia. De acordo com ele, esse grupo forma um novo setor social que deve ser foco das políticas públicas.
“A juventude da periferia hoje configura a nova classe trabalhadora brasileira. Que trabalha em aplicativos de transporte e entrega principalmente. Nós temos que apresentar soluções. O PT precisa ter a presença no território para conversar com essa nova classe trabalhadora e dar resposta para os anseios de um grupo que vai se formando e que vai incidir cada vez mais na política”, afirmou ao Brasil de Fato.
Antes de alcançar uma reestruturação enquanto partido, o PT ainda tem um caminho a percorrer com eleições se aproximando. Para 2026, a meta é lançar candidaturas “onde for possível”. Ter mais governadores e prefeitos é parte importante dessa busca pela maior representatividade no território e influenciar no crescimento da estrutura partidária.
A direção do partido entende que essa é uma das debilidades que ainda precisam ser superadas pelo PT nos próximos anos. Há também uma disputa ideológica interna entre correntes diferentes da sigla. A resolução apresentada pela sigla contempla essa disputa e levanta a necessidade de abarcar os movimentos populares no Brasil com o governo para garantir a vitória eleitoral.
“Temos plena consciência dos desafios colocados: estimular as lutas sociais por direitos, fortalecer nosso enraizamento territorial, ampliar nossas bancadas, consolidar a unidade da esquerda e do campo democrático e assegurar a vitória de Lula em 2026”, diz o texto.
Amigos de primeira hora
Uma crítica feita pela militância ao governo são as alianças firmadas com os partidos de direita, especialmente do centrão. Edinho Silva reconhece que essa é uma necessidade que poderia ser superada em outro contexto, mas que, hoje, o partido vai trabalhar as alianças não só a nível nacional, mas também nos estados e municípios.
Uma das principais necessidades do PT é tentar aumentar a presença no Congresso. Hoje o partido tem dificuldade em aprovar projetos e precisa costurar alianças com siglas da direita para tentar avançar pautas, especialmente na Câmara. Algumas das negociações precisam ser costuradas até mesmo com partidos que fizeram parte do governo anterior.
“Queremos ganhar 315 deputados”, diz Edinho em tom irônico. Mesmo sem ter uma estimativa, um dos grandes objetivos é ter mais do que os 80 deputados que tem hoje e que obriga o partido a fazer as alianças com o Centrão.
Mesmo assim, Edinho Silva afirma que a sigla não se arrepende de ter apoiado a candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB) para a presidência da Câmara. Ele entende que há um desarranjo institucional que começou na gestão de Rodrigo Maia na liderança da Casa Baixa. Esse “desequilíbrio” teve como principal sintoma o ganho de protagonismo do Congresso na governabilidade, inclusive na execução do orçamento a partir das emendas parlamentares. Isso força o PT costurar ainda mais alianças do que gostaria.
Para o presidente do partido, essas alianças serão costuradas em cada estado de maneira diferente porque os partidos têm suas características específicas em cada lugar. Ainda assim, o PT não vai ter negociações eleitorais com a extrema direita.
“Vamos costurar alianças com o campo democrático brasileiro. Um governo de coalizão pode ou não integrar os projetos dos partidos. Temos que buscar os pontos de unidade para construir projetos no Congresso. Nós respeitamos as lideranças regionais, os partidos não são homogêneos em todo o Brasil e as alianças serão construídas em cada estado respeitando as particularidades e quem são os aliados de cada lugar”, afirmou.
Cálculo para a presidência
Na disputa presidencial, a aposta é reforçar as entregas que foram feitas por Lula. Melhoras nos indicadores econômicos, retomada de programas e investimentos públicos serão usados nas propagandas do governo. “Foram projetos importantes e um governo com entregas que apresentam condições favoráveis para essas eleições”, disse Edinho.
O principal adversário ainda é incerto. O campo bolsonarista lançou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o filho mais velho do ex-presidente. Ele, no entanto, disse que sua candidatura tem um “preço” e sugeriu que o Projeto de Lei que reduz as penas dos golpistas de 8 de janeiro seria a moeda de troca.
“Não me preocupo com adversários da extrema direita. Nunca vi anunciar candidatura e, no dia seguinte, abrir para negociação. Não dá para levar a sério. O sentimento antissistema foi capitalizado pelo bolsonarismo, mas esse grupo não é uma síntese desse sentimento. Essa concepção estará em disputa em 2026. Enfraquecemos o bolsonarismo em 2022 e queremos enfraquecer em 2026”, afirmou”
O PT entende que a principal pauta será a segurança pública. Pesquisas indicam que esse tema é hoje o segundo que mais preocupa o eleitor brasileiro, atrás somente da saúde. A estratégia será mostrar que o partido está empenhado em discutir essa questão e apresentar soluções, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o PL Antifacção.
Mas a resolução do partido apresenta dois pilares para a disputa de 2026. O primeiro é trazer o Estado como indutor do bem-estar, da garantia de direitos e do desenvolvimento econômico, aprofundando e atualizando políticas como a Nova Indústria Brasil, o PAC, a transição ambiental e energética. Dentro do que o PT chama de “reformas estruturais”, o partido também entende ser necessário defender uma “reforma tributária progressiva”.
O outro eixo é a reforma política. O PT avalia que essa relação não só com o Congresso, mas também com a sociedade exige mudanças na estrutura dos partidos. Segundo a sigla, a reforma é um instrumento “indispensável para aprofundar a democracia no Brasil”. O texto sugere mudanças no financiamento público de campanhas e o voto em lista com paridade e cotas etnorraciais.
“É por meio de partidos fortes, democráticos e programáticos que o sistema político pode se tornar mais representativo, mais estável e menos vulnerável ao fisiologismo e à captura oligárquica do Estado. Uma reforma política profunda é condição essencial para inaugurar um novo ciclo democrático e garantir governabilidade para qualquer projeto popular transformador”, afirma o documento.
As propostas para um novo mandato devem envolver renda, custo da cesta básica, moradia, emprego, primeira infância, formação técnica, ensino integral, tarifa zero, fim da escala 6×1 e a redução da jornada de trabalho, saneamento, cultura, paz, mobilidade e bem-estar das famílias.
Novas lideranças
Outro desafio é pensar no futuro. Mesmo que eleito, a próxima gestão deverá ser a última de Lula, já que, em 2030, ele já não poderá mais ser candidato. Com isso, o partido deve lidar com uma transição geracional.
Isso, no entanto, não assusta Edinho. Ele afirma que o PT tem lideranças regionais que não foram expostas no cenário nacional e que podem acumular eleitoralmente. Camilo Santana no Ceará, Jaques Wagner na Bahia, e Rafael Fonteles no Piauí são alguns dos nomes mencionados.
domingo, 14 de dezembro de 2025
Exclusão de Moraes das sanções estadunidenses é grande vitória da soberania do Brasil
Exclusão de Moraes das sanções estadunidenses é grande vitória da soberania do Brasil
Graças à atitude de resistência de Lula à frente do governo brasileiro, o país atravessa com sucesso essa prova de fogo
14 de dezembro de 2025, 05:45 h
46
Partilhas
whatsapp-white sharing button 2twitter-white sharing button 5facebook-white sharing button 37email-white sharing buttoncopy-white sharing button
O anúncio pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, da suspensão das sanções baseadas na Lei Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes representa uma vitória histórica da atitude soberana adotada pelo presidente Lula diante daquela que foi a mais séria agressão direta e aberta sofrida pelo país em sua história moderna.
Graças à atitude de resistência de Lula à frente do governo brasileiro, o país atravessa com sucesso essa prova de fogo, o que ficará como exemplo para esta e outras gerações.
É o que acontece quando à frente do Executivo está um estadista consciente de sua missão primordial: a defesa dos interesses do país e de seu povo.
Lula soube repudiar as sanções no momento certo, negociar quando os espaços se abriram e fazer valer o peso do Brasil e de sua presença, sem se impressionar com arreganhos da potência.
Foi também uma grande vitória da Justiça brasileira, atacada diretamente na pessoa de Moraes, de sua esposa e de sua empresa. As sanções impostas contra eles, agora extintas, proibiam não apenas a entrada de ambos nos Estados Unidos como também impediam que tivessem contas em bancos ou usassem cartões de crédito de bandeiras com sede nos Estados Unidos. Tais restrições, que passaram a vigorar em 10 de julho passado, buscavam pressionar Moraes, relator do processo da tentativa de golpe de 2022 e 2023, a não levar adiante seu trabalho de apurar os crimes de Jair Bolsonaro e dos demais réus.
Açulado pelo clã de traidores da pátria dos Bolsonaros, o assédio inaceitável de Donald Trump não prosperou em sua intenção de intimidar o Judiciário.
Ao contrário, o episódio serviu para mostrar que este Supremo — ou ao menos sua maioria — não se dobra a nenhuma tentativa de coação, por mais ameaçadora que seja. O julgamento do golpe prosseguiu inabalável no Supremo mesmo sob a vigência das sanções, com o desfecho que todos conhecem. O Judiciário brasileiro tornou-se exemplo para o mundo. Assim as instituições devem agir quando a democracia é ameaçada. Não houve nenhum recuo, o que é motivo de orgulho e valorização da pátria.
Daí também o clima de alegria geral que dominou na sexta-feira, dia do anúncio da suspensão das sanções, a cerimônia de inauguração do canal SBT News. Em meio a outras personalidades, destacou-se o regozijo do presidente Lula pela vitória que representou o fim das sanções contra Moraes e o discurso deste, que sublinhou a firmeza do Supremo e agradeceu o empenho de Lula.
Com o Supremo, teve grande vitória também seu esteio, a Constituição democrática de 1988, cuja vigência o imperialismo estadunidense visava anular com base na ameaça e na força.
Agora, é imperioso ter claro que a vitória está longe de ser definitiva. Pairam sérias sanções contra outros membros do Supremo, ministros de Estado e funcionários do governo. Há ainda tarifas a serem negociadas. O pior dos perigos, porém, aparece na chamada dosimetria aprovada na Câmara e agora em exame no Senado. Consiste numa forma insidiosa de sabotar a Constituição e as leis que embasaram as condenações dos golpistas. O monstrengo legiferante pretende vandalizar as decisões da mais alta Corte, decisões tomadas com a observância do mais amplo direito de defesa aos envolvidos.
Não se pode subestimar a desfaçatez da iniciativa. Zelar pela Justiça e pela democracia não pode ser tarefa exclusiva do Supremo ou do Executivo. A manutenção das condenações está no alvo de manifestações que acontecem hoje em diversas cidades contra qualquer forma de anistia. Para romper de vez a tradição de golpes que marca a história do país, cumpre punir com o rigor da Constituição os autores da intentona que culminou em 8 de janeiro de 2023.
Redação Brasil 247 avatar
Conteúdo postado por:
Redação Brasil 247
Assinar:
Comentários (Atom)

