PARCIALIDADE
Ações de Moro contra Lula não são compreendidas em Harvard, diz professor
Segundo John Comaroff, juiz federal, Ministério Público e da Polícia Federal demonstram "ânsia em acusar" o ex-presidente e criam "presunção de culpa"
por Redação RBA publicado 04/11/2016 13:34, última modificação 04/11/2016 13:56
UMASS AMHERST/REPRODUÇÃO
GGN - Após trazer artigo nesta semana de dois procuradores da República da força-tarefa de Sérgio Moro, evidenciando a perseguição da Lava Jato a membros do Partido dos Trabalhadores e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e ser duramente criticada por parcialidade, a Folha de S. Paulo consultou o antropólogo John Comaroff, especialista em lawfare (que significa o uso da lei como uma arma de guerra) e professor na Universidade de Harvard.
Para o especialista, a sequência de abusos cometida pelo juiz federal da Lava Jato ainda está difícil de compreender em Harvard, com "fatos que perturbam a audiência internacional" e, segundo ele, as ações demonstram uma "ânsia em acusá-lo (Lula)". "Eu estou tentando entender o caso. Meus colegas aqui em Harvard não conseguem compreender", afirmou.
"Ao vazar conversas privadas, mesmo que envolvam 20 pessoas, se Lula está entre elas, você sabe que é dele que a mídia falará. Isso é 'lawfare'. Você manipula a lei e cria uma presunção de culpa", foi a resposta do professor.
Na entrevista ao jornal, o especialista defendeu, ainda, a substituição de Sérgio Moro para que questionamentos sobre a isenção ou não do magistrado nas ações que tramitam contra o ex-presidente possam seguir sem questionamentos ou polêmicas.
"Certamente há muitos outros juízes capazes no Brasil. Em princípio, se você quer manter o sistema judicial o mais limpo possível, você não perde a oportunidade de evitar conflito de interesse ou atitudes impróprias", disse.
Com vasto conhecimento no uso do sistema legal contra a figura de um inimigo, denegrindo ou deslegitimando a imagem da pessoa investigada disfarçada em mecanismos legais, Comaroff entende que a Lava Jato faz o contrário do que prevê a Constituição: cria a "presunção da culpa" e não a da inocência, como nos é garantida.
O professor de Harvard criticou as escutas telefônicas aprovadas pelo juiz do Paraná contra o ex-presidente, envolvendo detentores de foro privilegiado e, ainda, estendendo-se após o período autorizado. Além disso, questionou o grampo feito no escritório da defesa de Lula. Moro justificou a medida ser também investigado o advogado Roberto Teixeira. Para Comaroff, o ato é "muito ilegal no mundo inteiro".
"Não se pode fingir que não se esperava que essas medidas contra Lula não teriam impacto. Isso demonstra uma ânsia em acusá-lo. Parece que Lula tem recebido um tratamento diferente nos aspectos legais na operação", disse. "O país possui um sistema legal robusto. Não há necessidade de se violar a lei", completou.
Tomando o cuidado para não fazer "julgamento legal sem todos os aspectos esclarecidos" e afirmando que "não tem ideia" se o ex-presidente é culpado ou não, e que para isso seriam necessárias provas, o especialista disse que o que se tem atém agora "é tudo muito incerto". "O ponto levantado pelo juiz Moro é tudo, menos conclusivo pelo que foi relatado até aqui", completou.
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